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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

24
Dez12

Bom Natal

Maria do Rosário Pedreira

Neste dia em que andará tudo atarefadíssimo nas compras (baratinhas, bem sei, que isto não está para mais) e nos cozinhados, quero desejar a todos os leitores deste blogue um feliz Natal em companhia dos que amam e umas boas entradas em 2013. Sim, perceberam bem: esta semana vou estar de férias e só volto ao Horas Extraordinárias no dia 2 de Janeiro. Vai ser difícil passar sem os meus leitores tanto tempo, bem sei, mas espero revê-los aqui em breve. Tudo de bom!

21
Dez12

Pessoa para pessoano

Maria do Rosário Pedreira

Foi, recentemente, anunciado mais um Prémio Pessoa (que, no ano passado, calhou a Eduardo Lourenço – uma personalidade tão óbvia para o receber desde a primeira hora que, provavelmente por isso mesmo, passou despercebida e só então o pôde arrecadar). Este ano, porém, a escolha teve, entre outras coisas, muita graça, porque o galardão acabou por ser entregue a alguém a quem cabe que nem uma luva, na medida em que um prémio chamado Pessoa é perfeito para um pessoano. Parabéns, pois, a Richard Zenith, um norte-americano que há muito se dedica a um dos nossos poetas maiores e muito tem feito não só para o traduzir, promover e divulgar nos países de língua inglesa, mas também para o apresentar exaustivamente aqui mesmo na nossa terra, onde é, aliás, responsável pela edição da obra magna (de Pessoa e heterónimos) na editora Assírio & Alvim.

20
Dez12

Livros da vida

Maria do Rosário Pedreira

Frequentemente, em suplementos culturais e revistas literárias, perguntam aos escritores quais foram os livros da sua vida – pergunta incómoda, claro, porque os livros da vida mudam muito ao longo da vida, e um título que, na juventude, foi extremamente importante e enriquecedor pode perder relevância noutro momento em que já se acrescentaram leituras mais significativas. Há também uma certa tendência para, nestas situações, os escritores referirem monstros como a Bíblia ou clássicos inescapáveis como Dom Quixote de La Mancha; e até pode acontecer mencionarem alguns livros só para mostrar que os leram, como o Ulisses de Joyce ou Em busca do Tempo Perdido, de Proust, os exemplos que mais frequentemente aparecem nessas listas. Numa entrevista ao vivo a Lobo Antunes, de que já aqui falei um dia destes, o jornalista Carlos Vaz Marques pediu ao escritor que partilhasse com o público os títulos de três livros da sua vida; ele sorriu sem fingimentos e contou que o mesmo pedido fora feito um dia a Oscar Wilde que, com a sua graça inigualável, terá respondido: Como posso avançar três livros, se ainda só escrevi dois? Os livros da vida de um escritor não serão, acima de tudo, os que escreveu?

19
Dez12

Conselhos aos jovens

Maria do Rosário Pedreira

Cá em Portugal, não conheço muitos escritores consagrados que queiram travar conhecimento com os que se estreiam nas letras e aconselhá-los sobre procedimentos a adoptar na carreira ou avisá-los das contrariedades e desilusões que os esperam. É bem possível que se juntem nas feiras do livro no stand da editora (se a partilharem, claro) e até conversem sobre literatura, mas, francamente, nunca nenhum dos novos autores que publiquei me contou nada de memorável a este respeito. Recentemente, porém, um escritor norte-americano que publicou o seu primeiro romance contou numa entrevista que conhecera Philip Roth num café (pareceu-me até que provocara esse encontro só para ter o supremo gozo de oferecer o seu livro ao mestre que tanto admirava) e que este (mesmo sem ter lido uma linha da obra) o terá imediatamente dissuadido de escrever, explicando que a actividade implicaria um grande sofrimento porque o desejo de se superar a cada novo livro nunca o abandonaria e poderia até dar origem a momentos de decepção e fracasso insuportáveis. Disse-lhe que parasse enquanto pudesse (ao que o jovem respondeu que, infelizmente, era demasiado tarde). Por razões bem distintas, Diderot também aconselhou um jovem poeta a deixar de escrever. Depois de ler os poemas que o rapaz lhe pedira que avaliasse, confessou-lhe que não só eram maus como mostravam claramente que o seu autor nunca escreveria nada de bom – e que, nessa medida, seria mais prudente dedicar-se desde logo a outra coisa. Às vezes, de facto, é bem melhor não pedir opiniões...

18
Dez12

Preconceitos

Maria do Rosário Pedreira

Toda a gente sabe que a melhor forma de difundir uma ideia, um produto, seja o que for, é pela televisão, que está acesa todos os dias em casa de milhões de pessoas. Mas, curiosamente, mesmo os autores que ajudam muito a promover os respectivos livros, quando são convidados para participar em programas ditos populares, desses que preenchem as manhãs ou as tardes dos desocupados, raramente aceitam, crentes talvez de que a sua imagem – e os seus livros – nada têm a ganhar com o sacrifício, até porque a grande maioria dos que vêem televisão a essas horas são provavelmente os que têm menos hábitos de leitura de todo o País. Curiosamente, fui há uns quinze anos ao Porto participar no Praça da Alegria, nessa altura apresentado ainda por Manuel Luís Goucha. E não só nunca fui tão bem tratada em televisão, como me dei conta de que toda a equipa era de um profissionalismo difícil de igualar (lembro-me, por exemplo, de que o apresentador telefonou à minha mãe uns dias antes de eu ir ao programa – e não fui eu que lhe dei o número – e perguntou tudo sobre a minha relação com os livros desde pequena para poder sustentar a conversa sem hesitações ou lapsos desnecessários). Pouco antes, tinha ido a um outro programa, este mais intelectual, participar numa mesa-redonda sobre o imaginário infantil; e o conhecido jornalista que o conduzia, uns minutos antes de começar a emissão, andou a perguntar os nomes dos intervenientes, como se não tivesse sido ele a convidar-nos (e se calhar não foi). Sei que os programas popularuchos têm hoje em todo o mundo um nível bastante baixo, mas, com o desaparecimento anunciado de outros mais interessantes em termos culturais, não será tempo de pôr os preconceitos de lado? Isto para quem está interessado em ser conhecido, claro, porque também há os eremitas e os que cultivam uma certa distância, e estão no seu pleno direito.

17
Dez12

Portugal é nosso

Maria do Rosário Pedreira

A minha mãe conta que, quando a minha irmã era pequena – uns seis anos, se tanto –, iam as duas de metro para a Baixa quando, já perto da estação do Rossio, onde saíam, a terá avisado: «Agora é a nossa.» Mas, porque se estava numa época terrível e o salazarismo espalhava mensagens que todos ouviam (alguns sem perceber sequer o que implicavam), a miúda terá ouvido mal e repetido num tom de cantilena, para vergonha da minha mãe e consternação dos passageiros: «Angola é nossa! Angola é nossa!» Pois bem, o mundo mudou imenso desde então, e ainda bem, mas também não era preciso os factores inverterem-se… Não só a filha do Presidente Eduardo dos Santos detém importantes participações em bancos (BPI e Millenium BCP) e empresas portuguesas (a Galp ou a Zon), mas também consta que a RTP vai ser vendida a gente de Angola (e a dispensa do jornalista Pedro Rosa Mendes na sequência de uma crítica à subserviência da RTP a Angola já pode ter tido que ver com isso); o jornal Sol é de um grupo angolano, o mesmo se prevendo relativamente aos órgãos de comunicação social detidos actualmente pela Controlinveste, entre os quais se contam a TSF, o DN, o JN e alguns jornais desportivos – o que, a ser verdade, vai obrigar os que ali trabalham a pensar duas vezes antes de falar do país donde vieram milhares de portugueses em 1975. A Tinta-da-China, editora do livro Diamantes de Sangue – Tortura e Corrupção em Angola, do jornalista Rafael Marques – angolano, pois claro –, acaba de ser constituída arguida num processo instaurado em Portugal contra o autor por um grupo de generais que são acusados no livro e foram também objecto de uma queixa-crime de Rafael Marques em Angola pelas práticas de tortura e morte ocorridas nas minas de diamantes das Lundas (e arquivado entretanto  por falta de provas). A liberdade que conquistámos, que entre outras coisas serviu para libertar Angola do nosso jugo imperial, parece estranhamente estar a conduzir a uma situação de medo e subserviência que não é nada boa. Qualquer dia é Angola a dizer: Portugal é nosso...

14
Dez12

Editores em livro

Maria do Rosário Pedreira

Em vários países do mundo – desde logo nos Estados Unidos, mas também na vizinha Espanha – é relativamente comum os editores, chegados a determinada idade, publicarem as suas memórias, às quais não são obviamente estranhas histórias e anedotas sobre a sua relação com os autores que publicaram, o que, diga-se de passagem, apimenta a obra e gera interesse suplementar. Menos comum é a publicação de biografias de editores por mão alheia, mesmo dos célebres e mortos, embora haja casos de grandes figuras retratadas por terceiros, com base em aturada investigação e conversa com quem as conheceu pessoalmente. Em Portugal, porém, temos muito pouca coisa disponível sobre as pessoas que fizeram a história da edição, mas agora, pelo que sei, a situação vai mudar. Os Booktailors, que publicam ocasionalmente livros, inauguraram recentemente uma série exclusivamente dedicada aos editores portugueses que promete cobrir decididamente o vazio nesta matéria. Estreada com Fernando Guedes, o Decano da Edição Portuguesa, entrevistado pela jornalista Sara Figueiredo Costa, são de esperar em breve outros dois títulos na colecção, um sobre a editora do Círculo de Leitores, Guilhermina Gomes, e outro sobre o fundador da Teorema, Carlos da Veiga Ferreira. Tenho pena de que a ideia não tenha surgido nos anos 70 ou 80, pois perdemos definitivamente a oportunidade de aceder às histórias na primeira pessoa de editores como Lyon de Castro, Joaquim Magalhães, ou mesmo Snu Abecassis, que viveram tempos especiais em matéria de livros e partiram deste mundo sem os poderem partilhar connosco; mas estou feliz por ter à disposição o testemunho de Fernando Guedes – da Verbo, claro –, um editor multifacetado com uma história riquíssima, inclusive em termos internacionais.

13
Dez12

Acordar melhor

Maria do Rosário Pedreira

Na sexta-feira passada, acordei com a notícia de que o governo do Brasil decidira adiar a obrigatoriedade do Acordo Ortográfico (AO) até, pelo menos, 2015. Sempre tive a impressão de que fora o Brasil a puxar pelo dito e nós a irmos atrás para não perdermos o comboio, que é como quem diz para não perdermos para eles, entre outras coisas, o mercado nos países africanos de língua portuguesa. Como sou contra muitas das alterações propostas pelo AO (e não vale a pena voltar a isso, porque já falei do assunto aqui bastantes vezes), fiquei aliviada por pensar que, se os brasileiros adiam, é porque perceberam provavelmente que o AO não é assim tão bom e quiçá, mais ano menos ano, o arrumam numa gaveta e o esquecem. Porém, nesse mesmo dia, ao regressar a casa com o rádio sintonizado na TSF, percebo, pela intervenção de alguém com mais informação do que eu, que no Brasil existe um projecto que responde pelo nome Acordar Melhor e que, ao contrário do que acreditei ingenuamente, é uma proposta para se ir ainda mais longe nas alterações, razão por que se sustém agora para planear direitinho (com sotaque brasileiro e tudo) e pôr cá fora lá para 2016 uma versão ainda com mais espinhos para pessoas como eu. Bem, já não se pode, pelos vistos, acordar bem, que vem logo a ameaça do Acordar Melhor para nos tirar de vez o sono…

12
Dez12

Patenteado

Maria do Rosário Pedreira

Passo, como todos calculam, horas infindas a ler livros em bruto, versões que os autores entregaram ao editor cedo demais, nas quais transparece muitas vezes talento e imaginação, mas falta uma revisão atenta e crítica. Esses livros «embrionários» obrigam a mais do que uma leitura, a reflexão demorada, a uma procura de soluções para problemas específicos; e, quando tudo isso é processado, a propostas de alteração frequentemente profundas. Na maioria das vezes, tenho, porém, a sensação de que o autor, se fosse menos ansioso e apressado, acabaria por chegar sozinho às mesmas conclusões, poupando-me, claro, muitíssimo trabalho. António Lobo Antunes, numa entrevista ao vivo conduzida por Carlos Vaz Marques há uns dias numa sala do cinema S. Jorge (por ocasião dos 25 anos da revista Ler), disse que as primeiras versões dos livros lhe saíam relativamente bem e depressa, tendo até a mão dificuldade em acompanhar a rapidez do pensamento; mas era então que começava verdadeiramente o trabalho – ler, reler, rever, refazer, cortar, alterar – e era isso que demorava realmente meses; explicou ainda que era fundamental usar o «detector de merda» [sic] para tirar do «rascunho» tudo o que era excesso, gordura, porcaria. Não há, por acaso, ninguém que queira patentear um instrumento como este para me facilitar a vida?

11
Dez12

Filmes de escritores

Maria do Rosário Pedreira

Bela ideia teve a RTP de propor a quatro escritores portugueses relativamente jovens, mas já com provas dadas, que escrevessem um guião para um telefilme. São autores com linguagens completamente distintas em matéria de literatura (três deles também poetas) mas da mesma geração: José Luís Peixoto, Pedro Mexia, Valter Hugo Mãe e João Tordo (este último, se não erro, é o único com experiência na área, uma vez que foi durante algum tempo guionista de uma produtora de cinema e televisão e assinou, a meias, o script de, pelo menos, uma longa-metragem). O primeiro dos telefilmes – Entre Mulheres, de Peixoto – é a história de uma viúva com um segredo difícil de confessar e foi transmitido na quinta-feira passada (embora haja uma operadora que permite a recuperação de todos os programas que passaram nos últimos sete dias e essa possa ser a forma de o ver, se por acaso o perdeu). Contudo, ainda vamos todos a tempo de assistir aos outros três para sabermos se os nossos escritores têm também talento para passar da palavra à acção. O próximo a ser exibido chama-se Bloqueio, é assinado por Pedro Mexia e passa já nesta quinta-feira à noite. Nas próximas duas semanas, serão exibidos Crónica de Uma Revolução Anunciada, de João Tordo, e A Morte dos Tolos, de Valter Hugo Mãe. A realização desta mini-série, intitulada Portugal Hoje, é de Henrique Oliveira. Para variar, ver em vez de ler.

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