Conselhos aos jovens
Cá em Portugal, não conheço muitos escritores consagrados que queiram travar conhecimento com os que se estreiam nas letras e aconselhá-los sobre procedimentos a adoptar na carreira ou avisá-los das contrariedades e desilusões que os esperam. É bem possível que se juntem nas feiras do livro no stand da editora (se a partilharem, claro) e até conversem sobre literatura, mas, francamente, nunca nenhum dos novos autores que publiquei me contou nada de memorável a este respeito. Recentemente, porém, um escritor norte-americano que publicou o seu primeiro romance contou numa entrevista que conhecera Philip Roth num café (pareceu-me até que provocara esse encontro só para ter o supremo gozo de oferecer o seu livro ao mestre que tanto admirava) e que este (mesmo sem ter lido uma linha da obra) o terá imediatamente dissuadido de escrever, explicando que a actividade implicaria um grande sofrimento porque o desejo de se superar a cada novo livro nunca o abandonaria e poderia até dar origem a momentos de decepção e fracasso insuportáveis. Disse-lhe que parasse enquanto pudesse (ao que o jovem respondeu que, infelizmente, era demasiado tarde). Por razões bem distintas, Diderot também aconselhou um jovem poeta a deixar de escrever. Depois de ler os poemas que o rapaz lhe pedira que avaliasse, confessou-lhe que não só eram maus como mostravam claramente que o seu autor nunca escreveria nada de bom – e que, nessa medida, seria mais prudente dedicar-se desde logo a outra coisa. Às vezes, de facto, é bem melhor não pedir opiniões...