Paternalismo
Já não sei quem dizia que não existe maior despotismo do que o paternalismo excessivo. Não tenho a certeza, mas uma das críticas que mais teci ao sistema de ensino quando fui professora foi a incapacidade de autonomizar os alunos, tratando-os com exagerado paternalismo e proteccionismo, por vezes até como se não fossem capazes de pensar pelas próprias cabeças e os professores tivessem de lhes dar a papa toda feita. Na altura, lembro-me de que o programa de Português incluía umas quantas aulas sobre banda desenhada e que fazia parte da matéria explicar o que era um balão de fala e um balão de pensamento, como se os miúdos não estivessem fartinhos de o saber… Um dia destes, chegou-me a notícia de que saíra um livro sobre O Principezinho explicado às crianças (acho que de duas professoras) e, mesmo não conhecendo o seu conteúdo, fiquei um bocado indignada. O Principezinho, de Saint-Exupéry, não é propriamente linear, mas explicá-lo às crianças não será contraproducente? Eu li-o em miúda e não me incomodou a sua complexidade; o que não entendi na altura entendi mais tarde, porque a ele voltei muitas vezes com várias idades. Era mesmo preciso um guia do aluno para este livrinho com setenta anos como aqueles que eu comprava na universidade para perceber melhor a poesia de Dylan Thomas ou Gerard Manley Hopkins? Não creio. Deixar os miúdos raciocinar sobre o que lêem parece-me estar a passar de moda, e isso – sim – é grave.