Ó tempo, volta para trás
Clara Ferreira Alves (CFA) não é, seguramente, uma personalidade consensual. O seu tom assertivo, ao que sei, irrita muita gente – e vê-la no Eixo do Mal contribui decerto para que algumas pessoas não a estimem muito Não estou lá muito convencida de apreciar a sua presença na televisão, mas leio sempre os seus textos com muito interesse na Revista do Expresso aos sábados e, mesmo que não concorde em permanência com as suas ideias, acho-a uma mulher inequivocamente culta e inteligente que, ainda por cima, escreve francamente bem (o que já é raro nos jornalistas). Recentemente, CFA dedicou uma crónica à morte da cultura literária (no dia 7 de Setembro, para quem não leu) e, dessa feita, bem queria ter discordado dela – mas poucas vezes na vida li coisa tão certa, tão clara e que me alarmasse tanto. A sua afirmação de que a revolução tecnológica destruiu o mundo como o conhecíamos pode parecer exagerada, mas o artigo é límpido como água, e a primeira consequência deste progresso tecnológico é o fim da consagração da literatura e do pensamento como arte, como criação. Agora, troca-se a biblioteca pelo shopping, e os media, a televisão mais do que todos, festejam todos os dias a ignorância e ainda batem palminhas. O tempo não volta para trás, isso é uma certeza inabalável. Mas então que faço eu agora, não me dizem, à procura do talento literário que cada vez menos gente deseja ou compreende? Por favor, leiam o artigo e digam-me se não tenho razão para ter medo do que aí vem.