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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

02
Set14

Continuar a ler

Maria do Rosário Pedreira

Li há umas semanas um interessante artigo de Anabela Mota Ribeiro sobre Anne Frank a propósito de uma viagem da jornalista à casa desta, em Amesterdão, com uma sobrinha de dez anos. Para lá da bela prosa, tratava-se de um texto comovente e, ao mesmo tempo, muito lúcido sobre a forma de não deixar cair no esquecimento das gerações mais novas a barbárie que assolou o século XX, já os nossos pais eram vivos, mas de que os jovens estão cada vez mais distantes. Para a autora do artigo, a visita foi importante sobretudo por isso, por poder evocar as suas memórias da leitura do Diário à sobrinha, comparando-as ali ao vivo com o anexo onde Anne e mais sete pessoas viveram clandestinamente durante dois anos e donde saíram para campos de concentração depois de uma denúncia (nunca se soube quem a fez), sobrevivendo apenas o pai da rapariguinha judia que ficaria célebre postumamente pelo seu relato escrito do dia-a-dia vivido num anexo onde havia horas até para puxar o autoclismo. Embora o Diário de Anne Frank seja hoje uma espécie de lugar-comum literário, e se calhar os jovens de agora leiam mais depressa O Rapaz do Pijama às Riscas, obra mais recente sobre o mesmo tema e adaptada ao cinema, nada substitui o testemunho de alguém que viveu a tragédia em directo e sabe do que fala (além de saber também escrever com elegância e maturidade para os seus treze anos). Por isso, mesmo correndo o risco de parecer bota-de-elástico, aconselho vivamente a sua leitura aos adolescentes – e, indo a Amesterdão, a visita à casa da jovem escritora – para que não se possam esquecer nunca do que felizmente não tiveram de sofrer na carne. E, se puderem, leiam os Extraordinários o texto sensível da Anabela Mota Ribeiro (Público, suplemento «Fugas», 16 de Agosto) porque vale a pena.

01
Set14

O primeiro dia

Maria do Rosário Pedreira

Ui, que difícil é o primeiro dia depois das férias… E, como dia 1 calhou justamente a uma segunda, a semana vai parecer ainda mais comprida. Paciência. Temos de dar graças a Deus por termos um emprego a que regressar e podermos gozar umas boas férias (o tempo nem sempre ajudou, mas deu, pelo menos, para desligar). Agora é tempo de matar saudades dos Extraordinários e avisar que o blogue voltou ao activo. E, como hoje é dia de dizermos o que andamos a ler, falo, pois, de um livro – não do que está à minha espera em casa, mas do primeiro que li neste tempo de repouso: O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati. Era mais uma das minhas falhas e, como saiu agora com uma nova tradução de Nuno Camarneiro, não havia mesmo desculpas para não lhe lançar a mão. Trata-se de uma história de espera e desespero, sem amor nem mulheres (dizem-me que no filme de Zurlini com o mesmo título também só se vêem homens), pois o cenário é uma fortaleza e as personagens militares ansiando por um inimigo que justifique ali a sua permanência. Mas o inimigo parece não passar de uma miragem… E os dias tornam-se todos iguais para o tenente protagonista e todos os outros soldados, transformando-se a esperança em desespero e gastando-se a vida em coisa nenhuma – anos e anos em busca de um sinal, um indício, uma suspeita de ataque que, quando acontece, chega simplesmente demasiado tarde. Romance sobre uma juventude perdida, uma vida deitada às urtigas, sobre a frustração. Dito assim, parece desaconselhável. Mas não é. Bem-vindos mais uma vez às Horas Extraordinárias.

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