O medo e outras histórias
Não costumo ler biografias, menos ainda de vivos (talvez prefira a ficção à realidade), mas deitei a mão uma destas noites a um livro que acaba de ser publicado pela Bertrand – De Que Cor É o Medo, assinado pela jornalista Sílvia de Oliveira, que é uma biografia autorizada de Paulo Teixeira Pinto. A maioria das pessoas conhece-o como o banqueiro do BCP, mas eu gosto mais de o referenciar como ex-editor da Babel e ex-presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, pois foi nessas funções que o conheci pessoalmente, embora o pudesse mencionar também como artista, pois ele teve a generosidade de, há uns anos, nos oferecer um quadro da sua autoria que está na parede maior da nossa casa da Ericeira. Foi, aliás, para saber o que acontecerá realmente à Babel (hoje em decadência absoluta) que abri o livro e o folheei, mas não resisti a investigar igualmente o que sente alguém que descobre numa consulta de rotina que tem Parkinson (e que contempla a possibilidade da eutanásia se um dia se tornar apenas um fardo para os outros); ou como se sobrevive à morte súbita de um filho de 22 anos que não estava doente, sobretudo quando a autópsia é inconclusiva (um filho que era uma espécie de «santo» nas palavras do pai); ou como, depois de se pertencer durante anos a uma instituição como a Opus Dei, se deixa de acreditar em Deus da noite para o dia. O livro não é profundo, fala destas e de outras coisas um pouco ao de leve, pela rama, mas se calhar, para o biografado falar, a condição era capaz de ser não ir muito ao fundo das questões. A capa é que é mesmo esquisita: Paulo Teixeira Pinto parece estar a assustar-nos… e ele, ao que sei e percebo por este livro, é tudo menos agressivo. Escreve o prefácio Pedro Abrunhosa.