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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

07
Dez17

Famílias funcionais

Maria do Rosário Pedreira

Fui recentemente convidada para participar num debate na vila de Almeida (aquilo é que era frio) no âmbito de um programa de protecção a doze vilas e aldeias históricas de Portugal. Aí conheci um jovem músico que, depois de muitos anos a dar aulas na escola pública, resolveu envolver-se neste projecto e fazer uma recolha de canções, músicas e histórias de um património essencialmente oral que, com a emigração e a desertificação do Interior, correriam o risco de se perder para sempre num futuro não muito longínquo. Mas, além deste trabalho importante e altamente meritório, Ricardo Baptista (assim se chama o ex-professor de Educação Musical) também escreve; e venceu em 2015 o Prémio Literário Maria Rosa Colaço, tendo o livro premiado sido oportunamente publicado pelas Edições Afrontamento. Chama-se A Minha Mãe Anda Estranha e é totalmente narrado por uma miúda de oito anos, um pouco à maneira de um diário, incuindo no que diz respeito ao design e à paginação, que lembram fielmente os de um caderno escolar, a que nem sequer faltam a caligrafia, as nódoas e os borrões típicos da infância. Mas não só a circunstância de a história estar a ser contada por uma criança é completamente verosímil, um registo nada fácil de manter, como também o livro vale por esta narradora ser filha de pais separados e gostar muito do namorado da mãe e da namorada do pai. Esta experiência das famílias plurais não é muito tratada nas histórias para crianças, sobretudo com uma leveza e uma ternura que ajudam a desdramatizar experiências que hoje são completamente comuns, e não um bicho de sete cabeças, como quando eu era adolescente e os meus pais se divorciaram. Ora, encontrando-nos nós perto do Natal, parece-me este livrinho um excelente presente para miúdos cujos pais já não vivem juntos e começam a querer refazer as suas vidas. É também excelente para os que vão ter um irmão, já que a mãe do título anda estranha justamente por causa de uma gravidez.

06
Dez17

Ler Eugénio

Maria do Rosário Pedreira

Conheço muita poesia desde pequena. Não só a minha avó e os meus pais gostavam de a recitar para nós como a escola onde andei, já aqui o disse, era o Lar Educativo João de Deus, onde desde a primeira classe líamos versos do poeta e, no fim do ano, havia uma festa na qual dizíamos poemas dele e de muitos outros. Apesar da experiência, contudo, acho que houve um poeta que me fez mossa no bom sentido no fim da adolescência assim que pus os olhos nos seus livros. Chamava-se Eugénio de Andrade e – parece mentira – já morreu há doze anos. Para o recordar, Anabela Mota Ribeiro organiza mais logo uma sessão em torno da sua pessoa e da sua poesia em mais um evento da série Ler no Chiado, que se realiza na Livraria Bertrand (pelas 18h30). Para acompanharem a jornalista e apresentadora, dois poetas contemporâneos e bastante diferentes: Gastão Cruz e José Tolentino Mendonça. Se não conhece a obra do grande Eugénio, pode pôr-se em dia. Se já a conhece, poderá ir celebrá-la. Mesmo que não possa ir, não perca os poemas. Está tudo publicado: em antologias e livro a livro.

05
Dez17

Horas Extraordinárias

Maria do Rosário Pedreira

Comecei este blogue em 2010 – nem acredito que já lá vão sete anos a publicar praticamente todos os dias úteis, excepto durante férias e viagens de trabalho. Não sei se a maioria dos bloggers que começaram há tanto tempo como eu ainda estão activos e, estando, se publicam assim tão regularmente. É um esforço enorme da minha parte, acreditem – e já houve alturas em que pensei desistir ou, pelo menos, desacelerar e começar a publicar apenas duas ou três vezes por semana. Enfim, não perco muito tempo com as estatísticas e desconheço se tenho um número de leitores que compense este trabalho, mas de há uns tempos para cá, desde que a SAPO me pediu para associar ao blogue o meu endereço de e-mail, recebo numerosas mensagens de pessoas que escreveram ou publicaram livros a pedir que os promova aqui no Horas Extraordinárias. Pois bem: embora este seja um blogue de livros e de edição, existe uma regra: nunca aqui falo dos livros que não li. Mais: também aqui não falo de livros de que não gostei (até porque, sendo editora, pareceria estar a dizer mal de colegas ou da concorrência e não acho bem). Mais ainda: não tenho tempo para ler a maioria dos livros que gostaria de ler, por isso tenho ainda menos tempo para ler livros cujos autores desconheço e se me dirigem com fins publicitários. Dito isto, obrigada por darem valor ao blogue: se não dessem, talvez os pedidos de divulgação não chegassem. Obrigada também, evidentemente, aos que continuam aí desde os primeiros tempos.

04
Dez17

O que ando a ler

Maria do Rosário Pedreira

Por razões que não importa aqui particularizar, estou a reler os Contos de Eça de Queirós. Passaram muitos anos desde que os li na adolescência (desses tempos, lembrava-me sobretudo de «O suave milagre» e «Civilização», um conto que constituiu o esboço do romance A Cidade e as Serras e tem Jacinto como protagonista) e quase quarenta anos desde que estudei com maior detalhe o conto «José Matias» na Faculdade de Letras de Lisboa, na cadeira de Introdução aos Estudos Literários, ministrada por uma professora que faltava imenso e que depois nos obrigava a ter aulas ao sábado (estávamos em 1978, ainda em jeito de revolução). Já não tinha, porém, ideia de que os Contos fossem realmente tão diferentes dos romances em termos estilísticos: mais lineares no enredo, com menos pormenores, muito directos ao assunto e, sobretudo, sem a evidência daquelas características que nos habituámos a apreciar na obra romanesca queirosiana: o humor cáustico, o sentido de observação implacável e a crítica à sociedade portuguesa. Contudo, é o próprio Eça, num prefácio, que explica o que para ele é o conto: «No conto tudo precisa de ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve-se ver apenas a linha flagrante e definidora que revela e fixa uma personalidade; dos sentimentos, apenas o que caiba num olhar, ou numa dessas palavras que escapa dos lábios e traz todo o ser; da paisagem somente os longes, numa cor unida.» Fantásticas imagens. Eça agora e sempre.

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