Logo mais à tarde, pelas 18h30, na novíssima Livraria da Travessa, ao Príncipe Real, e aproveitando o facto de termos connosco em Lisboa o mais recente vencedor do Prémio LeYa, Itamar Vieira Junior, o romance Torto Arado será o ponto de partida para uma conversa sobre a situação da cultura no Brasil actual. Além do autor, estará presente Mirna Queiroz, da revista Pessoa, e João Moreira, da revista Bica, que moderará a sessão. Apareça.
P. S. O Prémio LeYa será entregue neste domingo na Feira do Livro, às 18h30. Apareça por lá também.
O PEN Clube português faz 40 anos em 2019, e nova direcção decidiu assinalar o aniversário com actividades literárias, o que é muito bom. Assim, hoje mesmo, pelas 18 horas, na Livraria Férin, em Lisboa, promovem-se as primeiras Leituras Públicas PEN (notem que PEN são as iniciais de Poesia, Ensaio e Narrativa), animadas por três escritores: um poeta (Luís Filipe de Castro Mendes), um ensaísta dedicado à literatura (Manuel Frias Martins) e uma ficcionista (Teolinda Gersão). Os três autores, além de lerem excertos da obra ou poemas e de conversarem sobre a sua carreira literária, podem responder a perguntas do público no fim da sessão, que será gravada e difundida pela rádio NTR, cujo programador cultural é o jornalista Jorge Gaspar. Imagino que para o mês que vem haja mais.
Pois é, vem aí o monstro, aquela coisa que dura, dura, dura… e nos faz perder fins-de-semana de praia e feriados de passeio. Ela chama-se, pois, Feira do Livro de Lisboa, e é já a 89ª! Nem tudo é mau, porque estar de roda dos livros e dos autores é sempre uma experiência inesquecível e, apesar do que pintei, as semanas passam a correr e no último dia fica sempre um vazio… Este ano a feira abre hoje, 29 de Maio, e vai até 16 de Junho. Os horários são, de segunda a quinta, das 12h30 às 22h; aos sábados das 11h às 24h, aos domingos e feriados das 11h às 22h. Existe a deliciosa Hora H, das 21h às 22h, com livros com 50% de desconto, nos dias 3 a 6 e 10 a 13 (aproveitem). Como sempre, haverá lançamentos e sessões de autógrafos, mesas-redondas, espectáculos, além da entrega do Prémio LeYa a Itamar Vieira Junior, já no próximo domingo, às 18h30 (se quiserem aparecer, são muito bem-vindos). O importante é que lá vão dar uma boa vista de olhos, porque se encontram sempre coisas que já desapareceram das livrarias, e comprem livros. Se quiserem visitar-me, lá estarei quase todos os fins-de-semana. Boa feira, aos Extraordinários lisboetas.
No meio da tarefa de esvaziar uma casa de família, a descoberta inesperada de um conjunto de cartas, fotografias e recortes revela ao narrador de Pratas Conquistador a existência de um tio-bisavô pioneiro do cinema em Portugal (o título do livro é, de resto, o do filme por ele realizado). Será o misterioso tio Emídio, curiosa personagem das anedotas familiares, o mesmo Emygdio Ribeiro Pratas, autor e intérprete, em 1917, da primeira comédia cinematográfica portuguesa ao estilo de Charlot? Que destino foi, afinal, o deste homem que teve uma vida absolutamente aventurosa? E porque terá sido votado ao esquecimento? Partindo da história desta figura multifacetada e do papel que representou na vida dos seus contemporâneos e dos seus descendentes, Paulo M. Morais explora os limites da ficção e da não-ficção, conduzindo o leitor ao Portugal das primeiras décadas do século xx, entre a queda da Monarquia e o advento da Sétima Arte, numa viagem ao mesmo tempo intimista e coletiva, poética e documental, que prende da primeira à última página.
Apesar de achar o Facebook cada vez mais cheio de gente agressiva e frequentá-lo pouco, de vez em quando compensa ir lá espreitar pois descobrem-se coisas muito curiosas nos posts de algumas pessoas. Desta vez falo da crítica e escritora (e sempre agradável, porque ama a vida!) Helena Vasconcelos, que me deu a conhecer há uns dias um divertido artigo da famosa Paris Review; uma das suas colaboradoras, Julia Brick, escreve sobre o vestuário de personagens literárias – e o que é mesmo giro é que se associa a uma ilustradora (autora, de resto, de umas quantas capas da revista New Yorker, o que já diz muito do seu trabalho) e esta desenha para ilustrar o artigo alguns modelos usados por Franny em Franny e Zooey, de J. D. Salinger. Ao vê-los, dizia Helena Vasconcelos, dá vontade de regressar à infância. E eu concordo! Oh, como me lembro das queridas bonecas de papel com o seu guarda-roupa de recortar! Quando estava com gripe, em miúda, pedia sempre que me dessem uma dessas folhas, que trazia a boneca e muitas roupas variadas ao lado, do mais desportivo ao mais chique… Nunca me passaria pela cabeça, porém, que alguém fizesse o mesmo tendo por base a criação literária, mas a verdade é que a literatura dá mesmo pano para mangas (mesmo que o pano, no caso, seja papel, e as mangas sejam apenas uma parte ínfima destas roupas). Esta seria talvez uma boa ideia para apresentar personagens literárias aos leitores mais novos e deixar-lhes o bichinho da curiosidade pelo livro de onde foram tiradas… O link vai aí para se deliciarem.
Para quem gosta de livros e fotografia, desde o início da semana que está patente na Galeria Carlos Paredes, nas instalações da Sociedade Portuguesa de Autores, uma exposição intitulada Por Amor aos Livros, de Inácio Ludgero. Bom fim-de-semana.
Lembram-se daquelas aborrecidíssimas equações em que menos por menos dava mais e mais por menos dava menos? Pois bem, isto é só para dizer que nada é líquido e que um livro chamado Less (Menos) pode, afinal, ser… Mais! Trata-se de um romance muito premiado, que esteve no top do New York Times e foi considerado livro do ano pelo San Francisco Chronicle, o New York Post ou a Paris Review. E o facto de o título não estar traduzido na edição portuguesa tem que ver com a circunstância de ser também o nome do narrador (Arthur Less) e, no fundo, significar ambas as coisas (o trocadilho perde-se na tradução, paciência). A personagem, aliás, é um escritor de 50 anos, discreto e mediano, além de inseguro, que nunca saiu realmente da cepa torta e tem grande dificuldade em lutar contra os egos exacerbados dos seus colegas. Ora, um dia, é convidado para um casamento – e descobre ser o do ex-namorado com outra pessoa... Então, querendo fugir de tudo, resolve copiar os outros escritores e aceitar fazer leituras e participar de festivais literários por todo o mundo. Uma digressão que o levará a vários continentes onde lhe acontece quase tudo. Parte autobiografia, parte ficção, Less é uma sátira sobre a mudança de idade e o amor que vale a pena ler.
Num tempo em que só ouvimos dizer que fecham por todo lado livrarias, acontece uma excepção de monta. A Livraria da Travessa, que até aqui operava apenas no Brasil e é uma das mais famosas e bem-sucedidas, abriu portas recentemente em Lisboa, no Príncipe Real. Ao contrário das suas congéneres Saraiva e Cultura, que entraram em falência técnica há uns tempos, a Livraria da Travessa (cujo sucesso inicial, se não erro, se deveu a ter sido escolhida como um dos locais recorrentes numa telenovela de grande sucesso há uns vinte anos) tem-se dado bem nos negócios; e, com este passo, abre a sua primeira loja internacional num momento em que a cena brasileira está difícil. Será uma livraria sobretudo com livros portugueses, mas dela constam também edições brasileiras, mesmo em tradução (presumo que o número de brasileiros residentes em Portugal o justifica), e ainda livros noutras línguas (para os turistas que ali passam às centenas todas as semanas). O espaço é bonito, dividido por várias salas, e vai ser um bom local para lançamentos. Não vi por lá muitos bestsellers, mais livros de literatura a sério. Só posso desejar que corra bem.
No ano em que a revista Granta comemora 170 anos de vida (caramba!), o Auditório do Museu da Farmácia, bastante activo no que respeita a sessões culturais (foi lá que se realizou um concorrido encontro sobre edição e outro sobre tradução), recebe na quinta-feira 23, às 18h30, Pedro Mexia (o novo diretor da Granta em Portugal, que sucedeu a Carlos Vaz Marques), bem como Madalena Alfaia, a representante da Tinta-da-China, editora que publica a revista, e o director de arte da Granta portuguesa, Daniel Blaufuks, para uma conversa em torno do Futuro (o tema do número mais recente), à qual se juntam ainda os escritores Dulce Maria Cardoso e Valério Romão e a moderadora Ana Daniela Soares. Na sessão, entre outras coisas, discutir-se-á o futuro das revistas literárias e o papel da cultura e da língua no espaço mediático contemporâneo. O debate promete e, se lá chegar cedo, ainda pode visitar o Museu da Farmácia, que vale muito a pena.
Snu tem estado na berra, como se dizia no meu tempo: um filme, uma série de TV, a reedição de vários livros. Devemos-lhe muito (e eu também) pois foi quem fundou a editora Dom Quixote, para a qual trabalho regularmente. Miguel Real dedicou-lhe há uns anos uma novela que agora reeditamos, intitulada O Último Minuto na Vida de S., sobre a história do último grande amor português, o de Snu Abecassis e Francisco Sá-Carneiro. Cruzando um estilo ora satírico-jocoso, ora realista, e apoiando-se em três ou quatro factos da realidade portuguesa entre as décadas de 1960 e 1970, o livro conta o que eventualmente terá pensado Snu nos últimos minutos da sua vida, na avioneta que viria a cair em Camarate, à maneira daquele desenrolar de memórias que consta acompanhar o momento da morte. A obra visa ainda retratar um Portugal que já não existe, desaparecido, para o bem e para o mal, na voragem dos costumes europeus.