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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

26
Jul19

Crónica e boas férias!

Maria do Rosário Pedreira

Hoje é dia de crónica, pelo que aqui vai o link:

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/13-jul-2019/interior/na-montra-11106191.html

Este ano parto para férias mais cedo, já amanhã, pelo que só voltará a haver post aqui no blogue dia 1 de Setembro. Preciso de descansar e de ler descontraidamente e, no regresso, prometo falar do que li. Espero que tenham umas boas férias também, se for o caso. Para os que ficam, coragem e bom trabalho!

 

25
Jul19

Novela exemplar

Maria do Rosário Pedreira

É estranho, mas sempre que leio o livro de um autor oriundo do território da antiga União Soviética, independentemente da época em que foi escrito, encontro afinidades e tiques que não são palpáveis mas me fazem imediatamente ver que estou perante um escritor «daqueles lados». Encontro-me agora a ler uma exemplar novela initulada Djamila, de Tchinguiz (também já vi «Chinguiz») Aitmatov, da Quriguízia, que Louis Aragon traduziu para francês em 1959, tornando-a conhecida em vários países europeus, e que começa quando os homens partiram para a guerra e as mulheres (incluindo Djamila) se vêem obrigadas a substituí-los no trabalho braçal (neste caso a transportar sacos de cereal dos campos para as moagens e os mercados). Quando iniciei a leitura, essa marca «russa» era tão forte que até pensei que a guerra fosse mais antiga, mas a páginas tantas percebi que afinal a história se passava no Verão de 1943 e, portanto, em plena Segunda Guerra Mundial. Porém, os sentimentos, os hábitos, o modo de vida ainda bastante rudimentar,  tudo fazia pensar na época em que escrevia Dostoiévski. Djamila é um texto belíssimo, a história de um adolescente fascinado pela mulher do irmão (que a deixou para ir combater e nem sequer lhe escreve da Frente, preferindo dirigir a correspondência à própria mãe, que também não perde muito tempo a transmiti-la à nora): um misto de admiração, amor, ciúme, por uma mulher de corpo inteiro que consegue rir no meio da tragédia e, na altura em que tem de decidir o que é melhor para si, não hesita um instante. Pequenino, dá para uma tarde ou noite de grande alegria. (Tem gralhas e erros e uma paginação mesmo coxa, mas isso é o menos.)

24
Jul19

Leitura paga

Maria do Rosário Pedreira

Já aqui discutimos muitas vezes se a leitura nas escolas não deveria ser uma prática mais regular e obrigatória. Há tempos até publiquei a história de uma escola (francesa ou espanhola, já não me recordo) que, a determinada hora da manhã, fazia tocar uma campainha para os alunos saberem que o quarto de hora seguinte tinha de ser obrigatoriamente dedicado à leitura. Muitos dos Extraordinários opuseram-se a essa actividade, dizendo que as obrigações nunca dão bom resultado e que até podia ser contraproducente e criar ódio à leitura. Acontece que descobri que se pode ir ainda mais longe… O escritor peruano Mario Vargas Llosa, Prémio Nobel da Literatura, deu uma entrevista em Itália ao La Repubblica em que conta – pasme-se! – que, quando os filhos eram pequenos, lhes oferecia dinheiro para lerem livros que eles depois tinham de resumir (como aquela analfabeta de que falei há dias). Ai, aqui no blogue, se nos tivessem feito isto, estávamos todos ricos por esta altura, não?

23
Jul19

Revistas

Maria do Rosário Pedreira

Os jornais estão claramente a desaparecer, mas parece que a vontade de fazer revistas continua. For City Lovers é uma delas e «é o novo projecto editorial do grupo El Corte Inglés, desenvolvido em parceria com a 004 e a Pacote de Açúcar Design». Com coordenação editorial da escritora Patrícia Reis, é bilingue, divulgará a oferta cultural e de lazer disponível no País e será distribuída em hotéis e nas lojas do El Corte Inglés em Portugal. A outra é Wookacontece, a revista distribuída gratuitamente a quem compra livros na livraria digital Wook e que já vai no segundo número – que, de acordo com a directora, Ana Chaves, está aliás diferente: «Aumentou em tamanho (mancha de texto) e em número de páginas e passou a ter uma capa robusta com gramagem superior à do miolo. Uma coisa tão simples, que dignifica os conteúdos, os entrevistados e vai espelhando as muitas horas de trabalho ali investidas.» Portanto, consolemo-nos com estas novidades, enquanto, infelizmente, vemos desaparecer tanta coisa interessante.

 

22
Jul19

Telepatia editorial

Maria do Rosário Pedreira

Esta é uma história de coincidências que agradaria ao Caderno Vermelho de Paul Auster e que aconteceu recentemente com o livro de Itamar Vieira Júnior, Torto Arado, vencedor do Prémio LeYa. Quando, em Novembro de 2018, começámos a preparar o livro, perguntei ao autor se tinha alguma ideia do que gostaria de ver na capa. Tratando-se de um romance que tem duas irmãs negras como protagonistas, Itamar enviou-me um grupo de fotografias de cariz etnográfico, entre as quais se inclui a que reproduzo aqui:

(1) Camponesas.jpg

 

Não a usámos, até porque as mulheres eram muito mais velhas do que as personagens, optando por uma solução diferente. Entretanto, a editora Todavia, uma editora literária importante, comprou os direitos do livro para o publicar no Brasil. Recentemente, chegou a capa da edição brasileira e era esta aqui:

image1.jpeg

 

Pensei, claro, que tinham perguntado ao autor o que gostaria de ver na capa e que ele teria enviado as mesmas fotografias que mandou para mim; por sua vez, Itamar pensou que os editores da Todavia teriam falado comigo e que eu lhes teria passado as imagens. Mas nada disso aconteceu, na Todavia quem fez a capa fê-la sem saber de nada. É a isto que eu chamo telepatia editorial. Não é mesmo incrível? Magia da boa, como fica bem ao Brasil.

19
Jul19

Crónica e livrarias

Maria do Rosário Pedreira

Como é sexta, aqui vai o link da crónica:

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/06-jul-2019/interior/beijos-e-abracos-11080642.html

Li que Buenos Aires é a cidade que tem mais livrarias per capita; mais do que Hong Kong e Madrid, que são as cidades que ficam respectivamente em segundo e terceiro lugares (bravo, hermanos!) e duas vezes mais do que Nova Iorque e Londres. Em alguns bairros de Buenos Aires, há livrarias em praticamente todos os quarteirões... O resto pode ler-se aqui:

https://www.theguardian.com/world/2015/jun/19/argentina-books-bookstores-reading

18
Jul19

O prazer de ler

Maria do Rosário Pedreira

Quando me fazem entrevistas na qualidade de editora, perguntam-me frequentemente o que precisa de ter um livro para ser publicado, ou o que é que um bom livro tem que não se encontre num mau livro. Não tenho uma resposta imediata para nenhuma destas duas questões (podia tentar, mas seria longa e complexa), mas também não consigo avançar apenas com o feeling de que aquele autor vai acabar por vingar ou o simples faro, a intuição de que estou perante um livro que vai dar que falar (o que me aconteceu, por exemplo, com Han Kang e A Vegetariana). Porém, recebi esta semana uma newsletter de uma editora australiana, a Text Publishing, que, sem oferecer definições ou propostas, apresenta uma formulação para o gesto de publicar com a qual concordo em absoluto: «Publicamos livros para dar prazer, para mudar o tema da conversa e para pôr algo novo no mundo.» É isso mesmo que eu gostava que acontecesse com os livros que publico, claro – dar prazer acima de tudo. Mas será também isso que os leitores procuram? Talvez o maior problema esteja em que muita gente não associa a leitura ao prazer, mas a um tremendo frete…

 

17
Jul19

Três painéis

Maria do Rosário Pedreira

Hoje vou a caminho do Porto para o lançamento de um romance de um escritor que pertence à mesma família romanesca de Camilo e Agustina (que, de resto, admira profundamente). Trata-se de Tríptico da Salvação, de Mário Cláudio, sobre a encomenda de uma pintura religiosa com três painéis (a Crucificação, a Deposição e a Ressurreição de Cristo) ao pintor Lucas Cranach. Porém, para desconcerto do católico que faz a encomenda do quadro, é visita regular do estúdio do pintor o controverso Martinho Lutero... É também por esta circunstância que hoje temos a apresentar o romance, um professor da Universidade Católica e um bispo protestante. Vamos assistir com gosto. Se estiver por perto, apareça.

convite_salvacao_PORTO (2).JPG

 

 

16
Jul19

Uma história bonita

Maria do Rosário Pedreira

Juan Cruz, que foi o grande editor da Alfaguara e que vi moderar um debate maravilhoso há anos com Herta Müller e Vargas Llosa, escreve uma bela crónica no jornal El País. No último sábado falava de um encontro em torno da edição em que a leitura tinha sido apontada pelo filósofo Gregorio Luri como a experiência deleitosa que salvaria a Espanha (e o mundo) da mediocridade e contou uma história bonita. O actual director do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica no Centro Johns Hopkins, um posto muito importante, era filho de uma empregada doméstica analfabeta. Mas a sua mãe, que trabalhava em várias casas, percebeu que os patrões que liam e tinham bibliotecas em casa eram os que mais sucesso tinham; assim, racionou a televisão na sua própria casa, obrigou os filhos a ir à biblioteca todas as semanas, a ler livros e a resumir as suas histórias, e até fingia corrigir esses resumos (os filhos só muito mais tarde compreenderam que ele não sabia ler). A descendência foi toda mais longe do que ela e hoje reconhece que, se não fosse a mãe e os livros, o mais certo era isso não ter acontecido. Gregorio Luri diz que a semente tem de ser plantada muito cedo para haver uma boa colheita mais tarde. E eu concordo.

15
Jul19

Ainda os títulos

Maria do Rosário Pedreira

Na semana passada publiquei aqui um post sobre os títulos na ficção e os títulos na imprensa, todos por vezes bastante enganadores: ou apontando para livros melhores do que realmente são, ou levando os leitores de notícias a crer em factos opostos aos verdadeiros. Na altura, porém, faltou-me dizer uma coisa que tenho aqui entalada desde que descobri que «a palavra começada por F» (uma tradução livre de «the F word»), quando aparece num título de um livro, seja ele de que autor for, faz com que o dito atinja o Top Ten em menos de uma semana. Não consigo perceber porque se sentem as pessoas tão atraídas por livros que lhes peçam na capa para não f... os outros, ou para aprenderem a dizer aos outros que se f... O que sei é que é matemático: todos os títulos que incluam a palavra F com o sentido metafórico de «lixar, tramar, chatear», têm sucesso garantido. Por isso, se (como suspeito) alguns dos Extraordinários têm livros em preparação ou prontos na gaveta (ou até já recusados por alguma editora a quem os mandaram), vão ao ficheiro do computador, parem no frontispício, prantem-lhe no título a palavrinha milagrosa e verão que os publicam em três tempos e com extraordinário êxito. Como 47% dos portugueses confessam não ler um único livro há seis meses, o melhor é facilitar.

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