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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

30
Nov20

O Torto tem direito

Maria do Rosário Pedreira

Todos se lembram certamente de que, em 2018, o escritor brasileiro Itamar Vieira Junior venceu o Prémio LeYa com o romance Torto Arado, cuja acção decorre numa fazenda na qual os empregados ainda não ultrapassaram a condição de escravos, o que, de resto, parecendo coisa antiga, é uma situação vivida actualmente no interior do Brasil e a que o próprio autor assistiu no âmbito do seu trabalho profissional. Esse livro, que conta a história de duas irmãs (Bibiana e Belonísia) que acabam por ter vidas distintas também por via da aprendizagem e da leitura, foi cá publicado em Fevereiro de 2019 (quando Itamar veio participar nas Correntes d'Escritas) e, no Brasil, pela mão da editora Todavia, em Agosto seguinte. Ora, neste momento estão a sair os prémios literários brasileiros relativos às obras publicadas no ano passado e Torto Arado venceu na quinta-feira o Prémio Jabuti e está na final do Prémio Oceanos, os dois prémios principais do país irmão, o que é absolutamente invulgar se pensarmos que se trata de um romance de estreia (o autor ainda só tinha publicado contos), mas ao mesmo tempo plenamente justificado, dada a maravilha que o livro é. Se vencer também o Oceanos, será uma felicidade muito grande, até porque 3 é o meu número favorito, mas de qualquer modo já estou muitíssimo satisfeita com estas notícias. Parabéns, Itamar, você merece, e não sou só eu que o digo, você tem muitíssimos fãs aqui em Portugal, além de que os jurados, pessoas qualificadas de vários países de língua portuguesa, escolheram Torto Arado para integrar a lista dos finalistas em ambos os prémios e isso quer dizer alguma coisa. Até dia 18 de Dezembro, ficamos a torcer por você mais uma vez.

27
Nov20

Na banheira

Maria do Rosário Pedreira

Podemos apaixonar-nos pela literatura infantil já adultos, e há vários livros para crianças que fazem parte da minha lista de livros favoritos. Entre estes, está O Tubarão na Banheira, com texto de David Machado e ilustrações de Paulo Galindro, cuja 13ª edição estou a publicar este mês com a chancela da Caminho. É um livro que recebeu já vários prémios e foi finalista de outros, além de ter sido seleccionado, no ano da sua edição original, para integrar o Plano Nacinal de Leitura, quando ainda eram poucos os livros escolhidos. Não só a história é absolutamente deliciosa (procurar um companheiro para um peixinho de aquário com uma cana de pesca nem sempre dá os resultados pretendidos), como existe uma inteligência muito especial no transformar do livro num caderno de palavras difíceis e na opção de deixar que uma das personagens principais permaneça ao mesmo tempo presente e invisível em todas as páginas. Se tiverem crianças na família, este é (passe a publicidade) um livro a não perder. Mas, se não tiverem, também, até porque uma percentagem dos direitos reverte para a Fundação do Gil.

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26
Nov20

O país pequeno

Maria do Rosário Pedreira

O Manel, como creio que já aqui tenha dito, não anda de avião (fez uma excepção há uns três anos, mas foi uma espécie de milagre que ainda está por explicar); e, por isso, antes desta coisa desagradável do vírus, viajávamos bastante de carro, especialmente para o país vizinho (que agora já conheço quase tão bem como Portugal). No regresso de cada uma dessas viagens peninsulares, no momento em que entrávamos em Portugal, ele dizia sempre que, pronto, chegáramos ao «país pequeno», e a expressão interessa-me porque se aplica na perfeição ao assunto que trago a este post. No New York Times, os colaboradores e críticos residentes coligiram há dias as respectivas listas de livros preferidos de 2020: da poesia às memórias, da não-ficção ao conto. E encabeçaram o artigo com o título «100 Notable Books of 2020». Uma centena de livros dignos de nota? Mesmo a publicar demasiado, como se diz que acontece em Portugal, conseguiríamos destacar 100 livros mesmo especiais? Hum... não me parece. País pequeno o nosso... O link para os cem vai aí abaixo. A maioria, palpita-me, nunca cá chegará...

100 Notable Books of 2020 - The New York Times (nytimes.com)

25
Nov20

Livros a Oriente

Maria do Rosário Pedreira

Ontem começou no Museu do Oriente, em Lisboa, a 13ª Festa do Livro, que vem mesmo a calhar para quem quer comprar livros para oferecer no Natal, uma vez que terão descontos apreciáveis, a partir de 20%. A entrada é livre, e a tónica das obras muito variada, embora se destaquem (e nem poderia ser de outro modo) os livros que versam sobre a presença portuguesa na Ásia, quer de índole ensaística, quer ficcional, bem como álbuns de arte oriental, guias, catálogos e monografias ligadas ao Oriente. Participarão mais de uma dúzia de editoras, algumas das quais de Macau. Neste âmbito, e em parceria com a Oficina do Livro, far-se-á hoje, por volta das 17h30, uma apresentação virtual do romance histórico Taprobana, de Eduardo Pires Coelho, cuja transmissão poderá ser vista no Facebook do Museu do Oriente e da LeYa e que contará com a participação de Artur Santos Silva, personalidade que se debruçará sobre este livro trepidante de que já aqui tive oportunidade de falar. Se estiver livre a essa hora, faça-nos companhia.

 

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24
Nov20

Passo a passo

Maria do Rosário Pedreira

Quando vi o anúncio, salivei... Isto porque sou uma apaixonada pelas questões da língua, mas infelizmente nunca tive tempo suficiente para pôr o resto de lado e voltar à faculdade para cursar Estudos Clássicos. Mas estou sempre a correr para a etimologia das palavras (o Houaiss tem-me ajudado bastante, mas não chega) e até já tenho escrito textos sobre a origem de certos vocábulos aqui no blogue («cabeça», por exemplo). Mas estava a falar-vos de que fiquei com água na boca quando vi que Frederico Lourenço, além de todo o bem que já nos fez com as suas magníficas traduções de Homero ou da Bíblia e a publicação da Nova Gramática de Latim, acaba de nos presentear com  um volume intitulado Latim do Zero, composto por 50 lições que permitirão aos leitores, mesmo os ignaros em latim como eu, poder, no final deste curso, desfrutar da leitura de Vergílio no original. Latim do Zero começou por ser uma página de Internet estreada durante o confinamento e teve tantos seguidores que era forçoso que se transformasse num livro estruturado. Aprender até morrer. Vamos lá ver se é desta. Obrigada, Frederico Lourenço.

23
Nov20

Primeira mulher, primeira estrangeira

Maria do Rosário Pedreira

Logo mais volta a série Herdeiros de Saramago, estreada na semana passada com os episódios sobre Paulo José Miranda e José Luís Peixoto, os primeiros vencedores do prémio literário que leva o nome do nosso único Nobel da Literatura. E hoje os contemplados serão Gonçalo M. Tavares (que venceu com Jerusalém) e Adriana Lisboa, a primeira estrangeira a receber o galardão com o romance Sinfonia em Branco, que publiquei na Temas e Debates pouco depois de o novo século começar. Falo deste livro porque, embora a obra desta autora esteja a ser regularmente publicada pela Quetzal, este romance não está disponível. E é pena, porque fala de um tema extremamente actual, o abuso sexual dentro da família, mas é um livro literário, e não comercial ou oportunista. Até porque Adriana Lisboa é uma escritora muito elegante (e o seu tom é europeu, pouco tem que ver com a maior parte da literatura brasileira contemporânea, mais urbana e directa ao assunto) e delicada (bastará ver a série e perceberão o que quero dizer). Conheçam-na melhor mais logo e conheçam os seus livros, que valem muito a pena.

20
Nov20

Peixes grandes e peixes pequenos

Maria do Rosário Pedreira

Já se sabe que, no mar, os peixes grandes comem os peixes pequenos, mas em terra, e nos negócios, isso é também cada vez mais verdadeiro. Quando saí de uma editora pequena para um grupo grande, fi-lo porque em pouco tempo perdi vários autores que queriam e precisavam de dinheiro, marketing, espaço em livraria e promoção a sério, coisas que as editoras pequenas não podiam dar; e nem sequer me queixei de falta de lealdade porque as pessoas precisam de viver do que fazem e os escritores não são excepção. Admito que foi um choque para várias pessoas, mas era a única forma de poder continuar a publicar novos autores portugueses. Choque foi também para muitos o que se passou recentemente com a publicação em Espanha da obra da Prémio Nobel da Literatura Louise Glück. Lançada pela Pre-Textos, uma fantástica editora de poesia de Valencia, saíram, quase sem apoios, sete dos seus onze livros; ao que se sabe, nada venderam, mas isso nunca fez o editor vacilar na edição. Mas eis que a poetisa ganha o Nobel, e o seu agente literário, um senhor conhecido no meio por «Chacal», em lugar de recompensar a pequena editora que apostou ao longo de catorze anos sem quaquer retorno, agora não lhe renova os contratos e anda a propor a poetisa aos grandes grupos, que evidentemente podem pagar muito mais. Peixes grandes comendo os pequenos...

19
Nov20

Ler com história

Maria do Rosário Pedreira

Os meus primeiros anos de actividade editorial foram passados em Campo de Ourique. A editora onde então aprendi as diversas fases por que passa um livro (revisão, paginação, composição, fotólito, ozalide, impressão...) ficava nesse bairro de Lisboa, perto do Jardim da Parada, praticamente em frente de uma livraria chamada Ler, que pertencia ao pai de um dos sócios da editora. Pela Ler tinham passado no Estado Novo muitos livros proibidos; e não foi uma nem duas vezes que ouvi essas histórias de resistência da boca do proprietário, o senhor Luis Alves, até porque na altura não havia Internet e, quando eu precisava de fazer consultas e não tinha as fontes necessárias, ia incomodar o prestável livreiro, pedindo-lhe que me deixasse ver determinado volume da Luso-Brasileira que se perfilava numa prateleira bem alta. Pois bem: apesar da concorrência das cadeias de livrarias e hipermercados, a Ler tem sabido resistir e manter-se de pé, honrando o seu passado. E há uns dias li que, com toda a justiça, ganhou a designação de "Loja com História", que de facto merece, não exactamente pelos anos que tem, mas pela história da democracia que passou por ali. Parabéns, pois, à Livraria Ler.

18
Nov20

Dias que correm

Maria do Rosário Pedreira

Todos os anos, pelo Natal, ofereço uma agenda de secretária à minha mãe; e, quando uma única vez me esqueci, ele fez-mo notar logo no dia 26. A minha sogra enchia agendas de carteira com o registo de tudo o que fazia e temos uma arca cá em casa cheia delas. Eu própria gosto de agendas em papel, embora, claro, também use a do Outlook para as coisas profissionais; e, entre vários tipos de agendas, prefiro as literárias, pois, ao mesmo tempo que nelas anoto encontros, consultas, lembretes ou afazeres, aproveito para ler poemas ou excertos de textos literários, alguns dos quais conheço e recordo com prazer, outros descubro com deleite ou espanto. Este ano há agendas destas a que vale a pena prestar atenção. A Dom Quixote, por exemplo, publica Saudades, na qual podem ser encontrados excertos de muitos textos de autores de língua portuguesa, dos trovadores aos poetas e romancistas de hoje, sobre um tema tão português. E a Quetzal publica uma outra, Agenda Literária 2021, elaborada pela escritora Helena Vasconcelos, que regista em cada dia episódios relacionados com a gente das letras, como o aniversário de Mary Shelley logo no primeiro dia do ano. Tudo para passar 2021 a ler e a aprender. Belos presentes.

17
Nov20

Oficina

Maria do Rosário Pedreira

Não tenho grande experiência de dar cursos ou workshops, embora já o tenha feito meia dúzia de vezes e (passe a imodéstia) nem me saí mal (pelo menos, foi o que me disseram); mas resolvi aceitar o repto que há tempos me lançaram de orientar uma oficina de quatro horas (em dois dias diferentes, 20 e 27 de Janeiro de 2021) sobre edição de livros, partilhando com os formandos as minhas opiniões sinceras e a minha experiência. No fundo, vou explicar o que devia ter um livro para ser publicado e aquilo que falta a um livro para ser um LIVRO (de ficção, bem entendido). Vou, portanto, falar de talento, linguagem, história, estrutura, verosimilhança, estilo, leituras, gosto, gramática... e muito mais; e também, claro, responder a perguntas dos que estarão do outro lado do ecrã (sim, é tudo virtual em tempos perigosos como estes, o que é talvez menos simpático, mas facilita a participação de qualquer pessoa em qualquer lugar). Por isso, se estão dispostos a aturar-me cara a cara ou querem saber mais do que aqui vos conto e fazer as vossas próprias perguntas, podem consultar as linhas-mestras da oficina e inscrever-se aqui:

https://euaprendoemcasa.pt/workshop-por-maria-do-rosario-pedreira-livros-e-livros-escrever-editar-e-publicar-ficcao/

Um dia destes, partilharei o programa mais detalhado.

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