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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

29
Jan21

Uma pseudo-playlist

Maria do Rosário Pedreira

Agora, que estou por obrigação a trabalhar em casa, enquanto almoço ouço muitas vezes no pequeno rádio vermelho da cozinha a Playlist da TSF; é uma lista de canções (ou peças musicais) seleccionadas por uma figura conhecida, seja ela da política, da música, do cinema, da ciência, da televisão. No site da estação podemos consultar as playlists todas, mas, curiosamente, passaram de moda na nossa imprensa escrita as listas de livros preferidos ou livros da vida (talvez a maioria das figuras conhecidas já não leia assim tanto). Mesmo assim, acho que podemos fazer aqui no blogue uma coisa original e, em lugar de escolher faixas de música, escolher excertos de livros que dêem aos outros vontade de os ler. De quinze em quinze dias, à sexta-feira, proponho que todos, a começar por mim, publiquemos uma citação de um livro de que gostámos e que ilustre bem o seu conteúdo, porque os títulos não dizem por vezes grande coisa do que vai lá dentro. Concordam? Se sim, na próxima sexta trarei já um excerto de um dos livros que me mudou como leitora, e aí desse lado pensem também no que vão trazer. Não demasiado longo, combinado? Bom fim de semana.

28
Jan21

Ir à América e voltar mais sábio

Maria do Rosário Pedreira

Agora, que o estupor do vírus nos impediu de viajar, não temos outro remédio senão recordar com saudade os lugares aonde já fomos e ler sobre os países aonde ainda gostaríamos de ir – mas, claro, fechadinhos em casa. Felizmente, há alguns livros que nos permitem viajar por vastas áreas geográficas (quase um continente) sem termos de sair do sofá e, ainda por cima, sublinhando os seus monumentos literários. É o caso de um que já aqui referi quando saiu, Viagem ao Sonho Americano, da autoria da jornalista e crítica literária Isabel Lucas. Trata-se de um roteiro maravilhoso da litertura norte-americana feito através de reportagens e entrevistas a escritores oriundos de vários estados, por vezes tremendamente distantes uns dos outros. Descobri, por exemplo, o fabuloso Donald Ray Pollock por causa deste livro precioso; e por isso não só vos desafio a lê-lo em confinamento como vos proponho que participem do serão do próximo sábado com a autora no clube de leitura do Museu da Farmácia, no qual Isabel Lucas falará do seu percurso e das viagens que fez nos Estados Unidos para visitar estas pessoas com quem nós, leitores, gostaríamos tanto de falar, bem como as casas e lugares de grandes autores desaparecidos como Melville, Roth ou Gore Vidal. A iniciativa do Museu conta com o apoio do Plano Nacional de Leitura e tudo o que tem de fazer para assistir é inscrever-se. As informações podem ser consultadas aqui:

museudafarmacia@anf.pt

 

 

27
Jan21

Casulos felizes

Maria do Rosário Pedreira

Ao longo da minha vida profissional, em pequenas ou grandes editoras, fui conhecendo e trabalhando com muitas pessoas diferentes. Algumas delas continuam perto de mim por me terem acompanhado de uma editora para outra; outras permanecem apesar de tudo à distância de um telefonema, de um e-mail, do Facebook ou mesmo (quando era permitido) de um almocinho de tantos em tantos meses para pôr a conversa em dia. Mas, infelizmente, de alguns dos meus ex-estagiários ou assistentes sei pouca coisa, sobretudo quando deixaram Lisboa e voltaram aos seus locais de origem. Por isso, foi tão bom descobrir que a Ana Sofia Pereira, que trabalhou comigo na QuidNovi, é mãe de três filhos (e que trabalheira será), mas nem por isso deixou o seu amor aos livros que, segundo ela, pautaram a sua vida desde a infância até hoje («[…] licenciada em Línguas Estrangeiras Aplicadas, tradutora literária e detentora de todos os cartões de utilizador de bibliotecas públicas a que pude deitar a mão»). Depois de ter criado um Casulo no seu jardim-refúgio (uma casinha de madeira onde se encontram as Casuleiras a quem ela fala, entre outras coisas, de livros), agora criou a Xylocopa Books (Xylocopa é uma abelha carpinteira e solitária que surge em Janeiro de túneis escavados na madeira). Citando a Ana Sofia, a Xylocopa Books oferece recomendações personalizadas de livros com base no perfil de cada pessoa e podem segui-la no Facebook pelo link abaixo. Parabéns, Ana Sofia, foi bom saber de si. Quando a pandemia permitir, prometo visitar o Casulo. Entretanto, quando estiver com dúvidas, usarei a sua empresa de consultadoria!

https://www.facebook.com/xylocopabooks

 

26
Jan21

Ler e ver teatro

Maria do Rosário Pedreira

Quando eu era mais nova (e não gostava de calhamaços), costumava ler peças de teatro que havia em casa dos meus pais (Morte e Vida Severina, As Três Irmãs, Fedra, textos de Beckett, Claudel, Eugene O'Neill...), mas penso que hoje as pessoas quase não compram livros de teatro, especialmente os jovens, a quem faria muito bem ler/ver algumas peças. No jornal britânico The Guardian, que tem sempre uns rebuçados para quem tiver paciência para o consultar, encontrei um artigo muito interessante sobre como ocupar de forma criativa filhos adolescentes em confinamento, e uma delas bem pode ser proposta à filharada aborrecida dos nossos Extraordinários: representar uma peça com os amigos por Zoom, mesmo que alguns deles estejam do outro lado do mundo. Distribuem-se os papéis, combinam-se ou não as vestimentas (mas tem graça usar chapéus ou outros adereços para surpreender os outros) e, à hora certa, cada um lê as suas falas. No fim de uma hora ou duas está a peça lida por todos e de certeza que se divertiram. Os monólogos é que não dão para ensaiar, pois a convivência, mesmo virtual, é o que apaga a maçada de se estar fechado em casa. Prometam que vão tentar. Os dramaturgos, mais do que nunca, precisam de leitores.

25
Jan21

Antes dos teclados

Maria do Rosário Pedreira

Há talvez um ano e meio ou dois, o jornalista Valdemar Cruz escreveu um interessantíssimo artigo no Expresso sobre o facto de as pessoas terem deixado de escrever à mão e reproduziu alguns cadernos e blocos de escritores que devem ser os últimos que poderemos ver. Na verdade, os teclados substituíram as canetas há já muito tempo; e até as crianças, que deviam treinar e aperfeiçoar a respectiva caligrafia (no meu tempo de escola primária contava para a nota final ter uma caligrafia clara e bonita), como lhes dão telemóveis desde tenra idade, estão mais habituadas às teclas do que às canetas. Mas ainda há quem estime estes objectos raros, sobretudo as canetas de tinta permanente, e quem até sinta pelas que possui verdadeira adoração. Miguel Esteves Cardoso escreveu na quarta-feira passada no Público uma bela crónica dedicada às suas canetas (umas 50!), elogiando sobretudo a preferida, que até foi barata e escreve como nenhuma outra. A circunstância de sonhar de vez em quando com uns revolucionários que vão a sua casa confiscar-lhe as canetas de que ele não precisa e só o deixam ficar com uma ou duas (no máximo, três) é deliciosa, mas vale a  pena ler de fio a pavio esse texto que é dos melhores que tem escrito nos últimos tempos. Eu penso melhor com caneta na mão, embora, claro, já não dispense um tecladozinho...

22
Jan21

Que susto

Maria do Rosário Pedreira

Quase todos os dias recebo os recortes de imprensa, críticas e notícias relacionadas com livros e autores que os meus colegas e eu publicamos. Por vezes, porém, o âmbito estende-se a áreas que não têm muito que ver com literatura: a gastronomia, a política, a música... Foi, de resto, o que me aconteceu há dias quando vi que, apesar de 2020 ter sido um ano muito atípico, alguém fazia uma selecção dos melhores álbuns de música do ano e não eram poucos. Fui ver em pormenor. Mas, ao fim de um parágrafo, fiquei elucidada. Deixo-vos o texto em questão:

«Olhando para o quadro geral, o hip hop é a cultura mais representada: de ProfJam & benji price e Silab & Jay Fella a T-Rex, passando por Capicua, nastyfactor, Maudito e 9 Miller, sem esquecer Sam The Kid, DarkSunn & Maria e Keso. Ou Tristany, o mais votado de 2020, que liga as pontes entre estes e, por exemplo, Scúru Fitchádu ou Dino D'Santiago. Daí para Nídia, PEDRO, A.K.Adrix e Pongo vai um pulinho...»

Vivemos mesmo em Portugal? Estou desconfiada de que não. Nem imagino o que tem isto a ver com livros, mas nunca se sabe. Bom fim-de-semana.

21
Jan21

Viver e morrer

Maria do Rosário Pedreira

Vi tanta gente a elogiar que não consegui resistir. E fiz bem, porque de facto não se deve morrer sem ter lido o norueguês Jon Fosse, dramaturgo, poeta e ficcionista, já comparado a  Ibsen e Beckett e, pelos vistos, muitas vezes pensado para o Nobel. A literatura nórdica (de que cá, infelizmente, se publicam praticamente só os policiais de sucesso internacional) tem destas surpresas e Manhã e Noite é seguramente uma delas. Assistimos antes de tudo ao nascimento de um menino, Johannes, cujo nervosíssimo pai é pescador, num lugar que imediatamente sabemos pobre e simples. E depois veremos acordar um Johannes velho e cansado, que já pouco pesca, viúvo, numa espécie de sonho em que tudo é estranhamente leve ou estranhamente pesado para então descobrirmos, como num novelo desfeito, o que foi a sua vida: os filhos, a pescaria, a forma como conheceu a mulher e como ela lhe morreu, a beleza do mar e o frio dos caminhos, o melhor amigo (Peter) que o salvou de morrer afogado e lhe cortava o cabelo para poupar dinheiro. Mas esse amigo também já morreu, embora lhe apareça nessa manhã com o barco cheio de caranguejos para vender no mercado e o conduza para o alto mar uma última vez, rumo à noite escura, como se o levasse de volta ao ventre materno. Muito bonito, não percam. A tradução é de Manuel Alberto Vieira.

20
Jan21

Crianças e matemática

Maria do Rosário Pedreira

Por agora as crianças ainda vão à escola, apesar de os pais estarem obrigados ao teletrabalho, mas continua a ser imperioso entretê-las no regresso das suas actividades lectivas e arranjar estratagemas para as divertir e ensinar ao mesmo tempo se as coisas se alterarem e ficarem de novo fechadas em casa (tudo é possível). Saiu há poucos meses na editora Fábula um livro de Maria Francisca Macedo que venceu o Prémio Literário Maria Rosa Colaço muito engraçado que certamente poderá ajudar. Conta a história de um lobo que não gostava de matemática (o título, de resto, é Histórias de (En)Contar de Um Lobo Que não Gostava de Matemática) e que, por causa disso, faz tanta confusão com as contas que acaba por se deixar constantemente enganar e não consegue matar a fome. É um livro com rimas inesperadas, algum desejado nonsense, reminiscências de outras histórias com lobos (o Capuchinho, os três porquinhos...) e até uma forma de ensinar a contar de 1 a 10 os mais pequeninos com belas ilustrações de Jaime Ferraz. Em suma: uma prenda inteligente para meninos e meninas com azar aos números.

19
Jan21

Pérolas

Maria do Rosário Pedreira

Há muito que já queria ter começado a lê-la, mas meteram-se, como sempre, outras coisas pelo meio e lá ficaram os seus livros a aguardar. Mas numa destas noites, no intervalo já nem sei de quê, peguei em Devoção, de Patti Smith, e fiquei devota da artista também nesta sua vertente. Trata-se de um livrinho que se lê em duas noites, mas belo e sensível, sobre o que pode levar a escrever um livro (no caso, umas imagens de uma família da Estónia separada por Estaline a seguir à guerra) e, de facto, como esse livro pode ir mudando nas mãos do escritor à medida que a vida avança e se vivem situações que alteram até certo ponto a narrativa (umas imagens na televisão de uma jovem patinadora artística, os livros que se levam para ler numa viagem, o túmulo de Simone Weil em Inglaterra, pequenos-almoços no Café de Flore, em Saint-Germain). Devoção é uma novela sobre a devoção pela patinagem de uma adolescente estónia refugiada na Alemanha nos anos sessenta e, ao mesmo tempo, um texto sobre o porquê e o como dessa novela, incluindo fotografias de algumas páginas escritas pela autora no comboio e um texto que tanto é da jovem patinadora como da própria Patti Smith. Muito original, profundo, delicado, uma belíssima surpresa neste início de ano.

18
Jan21

Confissões de uma poetisa premiada

Maria do Rosário Pedreira

Um amigo partilhou felizmente no Facebook (obrigada, JAF!) a conferência da poetisa norte-americana Louise Glück na recepção do mais recente Prémio Nobel da Literatura. Talvez por também escrever poesia desde pequena, identifiquei-me com muitíssimas das coisas que a laureada diz da sua infância e adolescência como leitora de poesia, de alguns dos seus autores preferidos (William Blake, que vencia na infância da autora um concurso imaginário para melhor poema do mundo), de uma tendência para gostar mais do poema que interpela o leitor (Eliot e a Canção de Amor de J. Alfred Prufrock, a solitária Dickinson, o adorado Shakespeare...), as recordações de leituras a sós num sofá ou de teatradas nos quartos das avós. O texto, porém, interessará a todos os que estimam a poesia, independentemente de se identificarem com Louise Glück, pelo que aqui vo-lo deixo para que possam lê-lo e deliciar-se.

Louise Glück: The Poet and the Reader | Nobel Lecture 2020 | The New York Review of Books (nybooks.com)

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