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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

30
Abr21

Excerto da Quinzena

Maria do Rosário Pedreira

Antes do excerto, queria esclarecer, porque parece não ter ficado claro para alguns, que o que se pretende nesta actividade quinzenal é que os Extraordinários publiquem excertos de livros que leram e que aconselham, e não necessariamente excertos dos livros que andam a ler, e muito menos passagens dos seus próprios livros, estejam ou não publicados. Dito isto, segue o meu excerto de hoje:

 

Havia um homem que amava as ilhas. Nascera numa, mas não lhe agradava por ter gente demais. Queria uma ilha só para ele: não necessariamente para lá viver sozinho, mas para fazer dela um mundo seu.

Uma ilha grande demais não é melhor do que um continente. Para ser sentida como tal, uma ilha tem de ser, de facto, bastante pequena - e este conto mostra como tem de ser minúscula, para podermos ter a sensação de que está cheia da nossa personalidade.

Ora as coisas proporcionaram-se de modo a este apaixonado por ilhas vir, realmente, a comprar uma ilha quando chegou aos trinta e cinco anos. Não a possuía em termos absolutos, mas comprara-a a noventa e nove anos, o que, pela parte que toca a um homem e a uma ilha, vale uma eternidade.

 

«O Homem Que Amava as Ilhas», in Amor no Feno e Outros Contos, de D. H. Lawrence, tradução de Maria Teresa Guerreiro

29
Abr21

Livreiros e livrarias

Maria do Rosário Pedreira

Nestes tempos pandémicos, conhecem-se pessoas... virtualmente. Sim, é verdade: agora, que os acontecimentos presenciais foram largamente cancelados, sobretudo na área do livro, é muito comum eu ser convidada para um debate com alguém a quem não posso «apertar a mão» e com quem troco apenas meia dúzia de palavras enquanto estamos nos «bastidores» e não mostramos a nossa carinha numa plataforma qualquer a quem nos ouve e vê. Na semana passada, adorei conhecer virtualmente a Graça Batista, bibliotecária de Vila Velha de Ródão, e o Nuno Pereira, livreiro da Poetria, e tive mesmo pena de que não pudéssemos ficar um bocadinho mais à conversa quando acabou o evento. A propósito de livreiros, foi também muito bom ficar a conhecer melhor mais uns quantos livreiros e livrarias pela pena do jornalista João Morales que, no Dia Mundial do Livro, quis falar deles e delas num excelente artigo publicado em A Mensagem de Lisboa: Tigre de Papel, Livraria Snob, Leya na Buchholz e Poesia Incompleta são os nomes dos estabelecimentos que Morales aborda no artigo cujo link aqui deixo; os seus responsáveis ajudam a explicar o que é isso que também aqui nos reúne diariamente: o vício dos livros! Ora leiam.

https://amensagem.pt/2021/04/23/dia-mundial-do-livro-livrarias-lisboa/ 

P. S. Como lancei um livro novo e ando muito conversadeira, logo tenho mais uma conversa com o meu editor, que pode ver e ouvir no Facebook da Quetzal.

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28
Abr21

A culpa é do biógrafo

Maria do Rosário Pedreira

Como anunciei oportunamente, as minhas crónicas sob o título genérico Adeus, Futuro foram reunidas num livro publicado recentemente. Porém, se ainda estivessem a sair no Diário de Notícias aos sábados, estou certa de que teria escrito mais uma na semana passada pois o tema combinaria muito bem com a minha indignação. Desta feita, a escandaleira tem que ver com a biografia de Philip Roth escrita por Blake Bailey. Quem leu Roth e quem leu sobre Roth sabe muito bem que não era nenhum santinho e que, se fosse vivo, não escaparia quase de certeza a uns insultos femininos sobre a forma como tratou as mulheres nos seus romances (e também na vida real, segundo atestou, de resto, a sua ex-mulher). Como ainda não li a biografia que Bailey lhe dedica, não sei como Roth é tratado pelo biógrafo, mas tenho conhecimento de que se trata de uma biografia «autorizada». No entanto, li a notícia de que, já depois de ter sido posta à venda e registar bastante sucesso, estava prevista uma reedição cuja distribuição foi retida nos armazéns da editora... E porquê? Bem, a razão nem sequer tem que ver com a vida de Roth, mas afinal com a do senhor Bailey... É isso mesmo: o biógrafo acaba de ser acusado de assediar sexualmente duas raparigas no tempo em que foi professor, e o editor da biografia, diante das acusações que nada têm que ver com a obra em causa, decidiu mesmo assim prejudicar a memória de Philip Roth e a curiosidade dos leitores do génio não deixando sair dos armazéns mais exemplares... Claro que acho um horror qualquer professor assediar alunas, mas esse assunto deve ser tratado pelas competentes instâncias e fora do âmbito da literatura. Com ou sem crónica, só me ocorre dizer de novo: Adeus, futuro.

 

P. S. Logo às 21h30 vou estar a conversar com Tito Couto no âmbito do Ler Olhos nos Olhos, que pode ser visto e ouvido na página de Facebook do Município de Oeiras.

 

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27
Abr21

Plataforma

Maria do Rosário Pedreira

No passado dia 23, aproveitando a circunstância de ser Dia Mundial do Livro, foi lançada uma nova iniciativa no mercado por uma parceria constituída pela LeYa e pela Kobo. Em tempos de claro sucesso do streaming, a dupla inventou uma forma de todos os que gostam de e-books ou  audiolivros (e até podcasts) terem à sua disposição centenas de títulos em português e noutras línguas, para ler e ouvir nos seus dispositivos electrónicos (telemóveis, tablets ou computadores) por um preço baratíssimo. Este baseia-se numa subscrição mensal (como no Spotify) e oscila entre os 5,99 e os 7,99 euros, permitindo não apenas o acesso a uma parte do catálogo da LeYa, mas a muitos títulos de outras editoras que se quiseram associar a este projecto com os seus livros electrónicos e audiolivros (a Relógio-d'Água, a Saída de Emergência e outras). A modalidade permite, claro, ler por um preço irrisório (se consome habitualmente livros electrónicos sairá muito beneficiado com a subscrição), mas também «cheirar» algum título que pareceu que lhe podia agradar, mas até pode nem ser muito o seu género; de outra forma, se calhar já teria pago 15 ou 17 euros de que se arrependeria à frente, mas assim pode desistir ao fim de algumas páginas sem grandes remorsos e pegar noutro logo a seguir porque o preço não se altera com o número de consumos. Mas o mais importante é que esta plataforma trará certamente alguns jovens até aos livros e à literatura, sendo isso, quanto a mim, o seu maior benefício. As explicações estão todas nos links abaixo, mesmo que os Extraordinários, parece-me, sejam mais aficionados do papel. Mas é sempre bom espreitar.

http://leyaonline.com/pt/eleya/

http://leyaonline.com/fotos/video/eleya.webm

Kobo_3.jpg

 

 

 

26
Abr21

Leilão literário

Maria do Rosário Pedreira

Hoje faz anos o meu irmão, que não lê o meu blogue mas a quem dou publicamente os parabéns. O meu irmão tem um cão e é de cães e outros animais que falo aqui hoje, porque, não sei se sabem, existe um leilão literário a favor dos animais de rua, segundo uma ideia original (espero não vos estar a enganar) do escritor norte-americano residente em Portugal Richard Zimler. Os escritores oferecem exemplares dos seus livros autografados, o leilão decorre ao longo de uma semana online (começou no Dia do Livro e irá até ao dia 30 de Abril) e o dinheiro conseguido com a venda desses livros será para acudir a animais (cães e gatos) sem dono que precisam de comer e ser bem tratadinhos (bem como para o esterilizar, para não se multiplicarem ad infinitum). A iniciativa deste Leilão Solidário já vai na sua quinta edição e leio no site dos Animais de Rua que nas edições anteriores já foram leiloadas centenas de obras de autores lusófonos, que aderiram à causa e ajudaram a associação a alimentar e cuidar das muitas criaturas que abergam. Por isso, se gosta de ler (nem é preciso ser um louco por animais), esta é uma boa maneira de comprar um livro e, ao mesmo tempo, praticar o bem. A lista completa das obras a leilão pode ser encontrada no link abaixo. Boa sorte e boas compras!

https://shop.animaisderua.org/product-category/leilao/

 

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23
Abr21

Rasgos

Maria do Rosário Pedreira

Voltei a ser cronista, desta feita no jornal Mensagem. Quinzenalmente, recordo a Lisboa da minha infância e falo do que me faz saudades, baseando-me em histórias de família, muitas delas relacionadas com a minha mãe (talvez seja por isso que lhes pus o título genérico «Cidade-Mãe»). Gosto muito de crónicas, também como leitora, e na minha geração não posso deixar de mencionar as crónicas diárias de Eduardo prado Coelho no Público, cultas e leves ao mesmo tempo, e as semanais e modernas que celebrizaram Miguel Esteves Cardoso n'O Independente. Ele hoje escreve diariamente uma língua no Público, o que torna mais difícil manter aquele seu estilo de página inteira, mas às vezes ainda é tão bom como antigamente; um dia destes, elogiando o Diário de Lisboa, por exemplo, teve um desses rasgos e escreveu: «Se tirássemos o Diário de Lisboa do fio da história do jornalismo em Portugal, desmanchava-se a manta toda e ficávamos com os joelhos a bater nos cotovelos [...]» São frases assim que às vezes fazem a beleza de uma crónica e nos arrastam ao longo do texto. Ainda hoje temos cronistas muito bons (o escritor Afonso Reis Cabral está a começar mas já promete muito, assim como a escritora e crítica Ana Bárbara Pedrosa, cujo humor é impagável), e o nosso MEC é só um deles.

22
Abr21

A importância de ser livro

Maria do Rosário Pedreira

Amanhã comemora-se o Dia Mundial do Livro, que acontece nesta data por ser o aniversário de Shakespeare e Cervantes, e esta é, por isso, uma semana que pede reflexão sobre a importância da leitura e da circunstância por que tanta gente ainda quer escrever livros (mais do que lê-los, infelizmente). Embora ainda não seja possível fazê-lo presencialmente, hoje às 18h30 vou «estar» na Casa Fernando Pessoa, a convite de Clara Riso e Margarida Ferra, para participar num debate subordinado ao tema «Como podemos ler durante a pandemia?» com a bibliotecária Graça Batista e o livreiro Nuno Pereira, debate esse que será moderado por Margarida Ferra. Vamos certamente falar de como foi ter as livrarias e as bibliotecas fechadas tanto tempo neste segundo confinamento, de vendas online e ao postigo, de terras sem livrarias, de bibliotecas domésticas onde falta sempre o livro que apetece ler, de gente que governa mas não lê e do mais que nos desafiarem a dizer e discutir. A sessão terá aproximadamente hora e meia e poderá ser acompanhada pelo Facebook. Apareçam na Casa Fernando Pessoa e leiam livros.

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21
Abr21

O escuro iluminado

Maria do Rosário Pedreira

Quando compro os direitos de um livro estrangeiro, é comum acontecer que esse mesmo livro apareça nas listas de algumas editoras de outros países que também gostam de apostar em nomes novos. Tenho, por isso, muitos livros em comum com a Prometheus na Holanda, a Voland ou a La Nave de Teseo em Itália, a Anagrama em Espanha, a Suhrkamp na Alemanha e por aí fora. São as chamadas afinidades editoriais... Não terei partilhado muitos títulos com a grande Hanser, mas ainda assim descobri num encontro há cerca de dois anos com um dos seus editores que tínhamos gostos semelhantes. Depois de uma conversa muito simpática por alturas da Feira do Livro, ele aconselhou-me a leitura de Luto, do guatemalteco Eduardo Halfon (enviou-me até o PDF da edição brasileira), e só não o publiquei porque, imaginem!, a minha colega Cecília Andrade da Dom Quixote chegou primeiro... Luto saiu há cerca de duas semanas em Portugal e é uma pequena maravilha (e digo «pequena» porque só tem 112 páginas). Inscreve-se no universo familiar do autor, que não é estranho a outras das suas obras onde Halfon é também personagem, e conta a história de como o irmão mais velho do seu pai, Salomón, morreu muito jovem afogado num lago perto da casa dos avós. É numa visita a esse lago muitos anos depois de ter abandonado a Guatemala que as memórias de infância de Halfon regressam e, com elas, os segredos sobre essa morte de que é preciso fazer finalmente o luto. Breve mas intenso e belíssimo, com as palavras todas e sem gorduras, um livro sensível e terno que foi justamente multipremiado.

20
Abr21

Em Lamego e mais além

Maria do Rosário Pedreira

Dizia eu há dias que andava cheia de saudades de ir a museus... Pois bem, o Museu de Lamego, apiedando-se de mim, convidou-me para estar na sua página de Facebook hoje mais à tarde, às 18h30, para mais uma das suas  Conversas (Im)prováveis, no âmbito do programa da Semana da Leitura, com os escritores Tiago Salazar e Alexandre Hoffman Castela. Claro que não é a mesma coisa estar num museu presencialmente e digitalmente (e prometo que, mal tenha oportunidade, irei mesmo a Lamego ver tudo ao pé!), mas não podia deixar de aceitar falar de um assunto que me diz tanto (a leitura) numa iniciativa que se pretende que sirva também de recurso aos profissionais da rede de bibliotecas públicas de Lamego, embora  todos possam assistir à conversa na página do Museu de Lamego no Facebook. Ao mesmo tempo, sinto uma grande simpatia pelo concurso de escrita promovido anualmente nas escolas de Lamego, em que os alunos se inspiram em obras do Museu ou no património histórico local para escrever os seus textos. Tudo razões para participar neste programa, que só acaba na sexta e terá videoconferências, webinares, debates e leitura de sonetos. A não perder, em Lamego e, pelo Facebook, em todo o lado.

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19
Abr21

O livro do comendador

Maria do Rosário Pedreira

Se há figura que reúna a simpatia da maioria dos portugueses, é Rui Nabeiro, o fundador e presidente dos cafés Delta. Natural de Campo Maior, de família humilde, órfão de pai relativamente cedo, começou a trabalhar com um tio e acabou por tornar-se um dos maiores, mais ricos e menos exibicionistas empresários portugueses da actualidade. Além de ter dado emprego a muita gente, foi magnânimo com a sua terra alentejana, tendo, entre muitas outras iniciativas, criado um centro educativo para as actividades extra-curriculares das crianças, a que deu o nome da mulher (Alice) e patrocinado a investigação em biodiversidade na Universidade de Évora. Condecorado por Mário Soares e Jorge Sampaio, é também o assunto central do último romance de José Luís Peixoto, Almoço de Domingo. Ao que parece, depois de ter visto que o escritor dedicara um livro a Saramago (Autobiografia), o empresário ter-lhe-á sugerido que escrevesse a sua biografia, e o romancista contrapropôs-lhe fazê-lo personagem de um romance biográfico. Na verdade, em Almoço de Domingo, ouvimos o Rui Nabeiro do passado na primeira pessoa e, simultaneamente, vemo-lo no presente pelos olhos de um narrador que o imagina nos dias que antecedem o seu 90º aniversário e na festa de anos, rodeado de filhos, noras, netos e bisnetos. Mas não se trata de uma vida contada cronologicamente, antes feita de episódios (muitos deles desconhecidos do público, como a morte da irmã mais nova ou o convite para a inauguração da Ponte sobre o Tejo, e outros que talvez sejam uma espécie de extrapolações de Peixoto sobre ideias mais ou menos consensuais a respeito de Rui Nabeiro). Sem dúvida, esta é uma maneira bonita de homenagear «o senhor Rui».

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