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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

30
Jun21

Hoje há lançamento

Maria do Rosário Pedreira

Pois é, ao fim de meses e meses sem lançamentos presenciais, com as carinhas das pessoas estampadas nos ecrãs dos computadores a debitarem sobre o que leram, escreveram, editaram..., estão de volta as apresentações ao vivo, se bem que, claro, condicionadas por regras apertadas (e ainda bem, uma vez que os Portugueses, especialmente os mais jovens, estão, pelos vistos, a ficar relaxados e desobedientes demais). Hoje vai ser no clube Turf, ali ao Chiado, meio no jardim, meio na sala, com máscara e cadeiras de intervalo para não facilitar, pois todos querem ir de férias com saúde e sem ameaças e isto já está como em Fevereiro. Falar-se-á de O Mordomo do Rei, romance histórico de Pedro Beltrão, que se debruça sobre uma figura pouco conhecida que é, porém, referida frequentemente na historiografia francesa pois, com o infante Afonso de Portugal (mais tarde, rei D. Afonso III), privou com o rei Luís IX, aquele que viria a ser santo. Vamos então a esta estreia mais logo, às 18h30, ouvir a especialista Margarida Ortigão Ramos falar do livro, do rei, do autor e do mordomo. E que ninguém tire a máscara!

 

convite_mordomo.jpg

 

29
Jun21

O desaparecimento da memória editorial

Maria do Rosário Pedreira

Quando comecei na edição, as editoras (falo de empresas, não de pessoas) tinham quase todas uma identidade perfeitamente definida. Se pensarmos numa chancela como a & etc. ou a Assírio e Alvim, na Ática, nas Publicações Dom Quixote, na Quetzal desses anos noventa, encontraremos evidentemente projectos muito diferentes, mas com uma unidade interna pautada por escolhas de autores, linhas gráficas próprias (oh, como tinha bom gosto o Rogério Petinga e como eram adoráveis os livrinhos pretos com folhas azul-claras da Estampa), filosofias de publicação claras, modus operandi de conquistar o público realmente típicos. Se até determinada altura foi possível contar a história de uma editora enquanto projecto intelectual, a verdade é que (cá como em todo o mundo), quando a indústria tomou conta do ramo livreiro, os arquivos foram todos para o lixo (o espaço custa dinheiro), os catálogos mudaram de mãos porque muitos dos donos das editoras vendidas preferiram sair e, frequentemente, não ficou ninguém também entre os membros do pessoal mais velho para contar como se conseguiu publicar pela primeira vez o autor x ou y, como era um autor consagrado em início de carreira, que loucuras se cometiam por vezes encomendando capas a pintores ou pondo anúncios de página inteira em semanários... Um artigo muito interessante, ainda que escrito em castelhano, fala do fim desta memória editorial e pode ser lido no link abaixo. Borges dizia que a memória era muito frágil. E tinha razão.

La fuga de la memoria editorial | Letras Libres

 

28
Jun21

Grandes leitores

Maria do Rosário Pedreira

Começo este post com um link (tanta inglesice... desculpem) e depois explico do que se trata:

https://www.publico.pt/podcast-grandes-leitores

É um podcast (ai, os puristas da língua vão matar-me, mas não sei traduzir estes termos) chamado Grandes Leitores que a jornalista e crítica literária Isabel Lucas tem em colaboração com o jornal Público. Há uma espécie de convidado de honra que tem o direito de convidar outro grande leitor para o acompanhar. Falam, claro, de livros, daquilo que os fez leitores, do que andam a ler, de onde vêm os laços que os atam nas leituras. Normalmente, o ponto de partida é um tema, no último que ouvi (já há outro depois desse) era a edição da obra de Maria Judite de Carvalho, pois a «grande leitora» era uma das suas netas (Inês Fraga, neta também de Urbano Tavares Rodrigues). O seu amigo leitor era Guilherme Pires, editor que já trabalhou na Elsinore e hoje, além de dois filhos lindos, têm uma horta invejável, repara máquinas de escrever, cuida da publicação dos livros da Bazarov e de outros (e lê, bem entendido). E, nestes tempos em que as pessoas se anestesiam com séries de TV uma a seguir à outra, é tão bom ouvir o que dizem pessoas que gostam de ler, tão bom ser testemunha das suas ideias, dos seus tiques, das suas memórias e dos seus esquecimentos (se julgava que era o único a esquecer-se de grande parte dos livros que leu, fique descansado, tem muitos irmãos). Acho que quem gosta de vir aqui, às Horas Extraordinárias, vai gostar muito de ir ali, aos Grandes Leitores. E até dá para jantar acompanhado de uma boa conversa, se estiver sozinho.

25
Jun21

Excerto da Quinzena

Maria do Rosário Pedreira

[...] Briony também se levantou e, ao fazê-lo, deu outro dos seus gritos penetrantes de criança. Tirou um envelope do assento de Jackson e pô-lo no ar para o mostrar a toda a gente.

– Uma carta!

Ia abri-la. Robbie não conseguiu deixar de perguntar:

– Para quem é?

– Tem escrito: «Para Todos.»

Lola libertou-se da tia e limpou a cara com o guardanapo. Emily afastou-se um pouco mais de Lola ao retirar o bocado de papel pautado. Quando o leu, Robbie e Cecilia também puderam lê-lo.

 

Vamos fujir porque a Lola e a Bettu são orríveis para nós e queremos ir para casa.

Desculpem termos robado fruta. E tamém não houve peça.

 

 Tinham assinado os seus nomes com uma letra ziguezagueante e cheia de floreados.

 

Ian McEwan, Expiação, tradução de Maria do Carmo Figueira

 

24
Jun21

Verão Azul

Maria do Rosário Pedreira

Alguém aqui se lembra de Verão Azul, uma série de televisão espanhola para crianças e adolescentes que passou em Portugal nos anos 1980 e foi um fenómeno de audiências? Era excelente, mas é de outro Verão Azul que hoje vos falo, o nome dado a uma série de sessões relacionadas com a leitura de livros recentes que terá lugar em Portimão a partir de hoje por iniciativa da Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes. É, de resto, de Manuel Teixeira Gomes o livro Agosto Azul que deu origem a este Verão Azul portimonense que reunirá no Jardim 1º de Dezembro quatro pares de autores. Hoje às 18h30 será a vez de João de Melo e João Pinto Coelho trocarem galhardetes, ou seja, lerem passagens dos livros um do outro (respectivamente, Livro de Vozes e Sombras e Um Tempo a Fingir); mas em Julho os autores serão Ondjaki e Sandro William Junqueira; em Agosto, Lídia Jorge e Afonso Cruz no dia 13 e, uma semana mais tarde, os poetas Nuno Júdice e Luís Filipe Castro Mendes. Depois acabará o Verão, azul ou de outra cor, e a Biblioteca certamente anunciará outras actividades. Mas, se hoje estiver pelo Algarve, aproveite. São ambos excelentes romances para ouvir.

23
Jun21

Que há num nome?

Maria do Rosário Pedreira

Na sequência do que ontem aqui escrevi, é absolutamente legítimo que fiquemos contentes quando alguém de quem gostamos ganha um prémio literário. Mais ainda, se gostarmos do que essa pessoa escreve e da forma como o diz (voz linda a ler). E mais ainda se esse prémio não abarca apenas o nosso pequeníssimo Portugal mas todo o espaço Ibero-Americano. Pois é, a poetisa Ana Luísa Amaral, que conheço há pelo menos vinte e cinco anos e com quem me dou muito bem apesar de só nos vermos duas ou três vezes por ano, venceu um galardão de respeito: o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana! Um dos seus mais recentes livros, What's in a name? (sim, chama-se assim mesmo, em inglês, e a mim remeteu-me logo para a pergunta «Must a name mean something?» na Alice de Lewis Carroll, mas tem que ver com outras cosmogonias e reminiscências), já tinha sido o preferido dos livreiros espanhóis; e agora é a obra toda que é tão justamente premiada. Penso que neste século XXI é a segunda vez que o prémio, instituído em 1992, é atribuído a um poeta português, tendo contemplado Nuno Júdice antes de Ana Luísa Amaral. No século passado, só Sophia teve direito a ele. Parabéns, Ana Luísa Amaral.

22
Jun21

Finais

Maria do Rosário Pedreira

Um dia destes, já não sei que alma azeda falava por aí de alguém que tinha ganho prémios só por ser amigo de A e B. Outros defendem que ganham sempre os mesmos, desde que tenham livro novo. Há pelo menos um ensaio publicado em que se tenta provar que as capelas funcionam e que os jurados votam nos amigos e já está. Pode ser, efectivamente, que num ou noutro caso aconteça e até já me contaram há anos a história de que, em dois anos distintos, um prémio específico foi dado a quem estava a precisar de dinheiro (e não deixa de ser bonita esta humanidade, porque os livros em causa eram bons). Enfim, como só fui membro de um júri uma vez e nada vi de estranho (a não ser num concorrente que não queria ficar com o segundo ou o terceiro lugar para poder concorrer a outro prémio com aquele livro), deixo isso a quem queira andar a chafurdar ou se sinta vítima de injustiça. Eu cá o que quero dizer hoje é que os finalistas e o vencedor do último Prémio de Novela e Romance da Associação Portuguesa de Escritores deste ano foram, quanto a mim, bastante inesperados. Além de H. G. Cancela (A Noite das Barricadas), autor que já arrecadou o galardão e foi finalista de outras vezes (mas é um autor pouco conhecido do público), concorriam os escritores Valter Hugo Mãe (Contra Mim), Djaimilia Pereira de Almeida (As Telefones), Teresa Veiga (Cidade Infecta) e João Tordo (Felicidade), todos vencedores de outros prémios, mas nunca deste. E ganhou Valter Hugo Mãe com o livro que é o menos romance dos seus romances. E esta?

21
Jun21

As redes

Maria do Rosário Pedreira

Recentemente, a grande escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie publicou uma reflexão em três partes extremamente interessante sobre os comportamentos violentos e as mentiras publicadas nas redes sociais, especialmente as que rodeiam as pessoas, chamemos-lhe assim, famosas (o famoso tem um poder que o torna paradoxalmente mais vulnerável, segundo Chimamanda, ideia com a qual concordo em absoluto). As histórias que relata e se passaram consigo são, de facto, realmente assustadoras. Na primeira parte, uma pessoa que frequenta um dos seus cursos de escrita e que ela acaba por acolher excepcionalmente em sua casa, criando-se entre ambas uma relação muito próxima da amizade, só por não concordar com uma afirmação feita pela escritora numa entrevista, insulta-a publicamente, mostra fotografias pessoais e revela impressões sobre outras pessoas que Chimamanda trocara com ela em tom de confidência. Esta pessoa teve ainda a coragem de usar o nome da escritora para conseguir um visto nos Estados Unidos... Na segunda parte, a história é ainda pior, pois a pessoa que a insulta nas redes sociais ao ponto de lhe chamar «assassina» e dizer coisas tão graves como a morte dos pais da escritora (com pouco intervalo entre ambos) ter sido uma espécie de castigo merecido, mais tarde inclui o nome Chimamanda Ngozi Adichie na capa do seu romance de estreia como sua «mentora», tirando daí dividendos óbvios em termos de promoção e vendas. Na terceira parte, aliás parcialmente reproduzida no nosso jornal Público, a escritora conta como os jovens hoje se autocensuram permanentemente nas redes sociais  com medo de serem gozados ou saírem do grupo de puritanos que às vezes até lhes pede que denunciem amigos verdadeiros. Leiam, que vale muito a pena:

https://www.chimamanda.com/

18
Jun21

Mulheres

Maria do Rosário Pedreira

Há uns meses escrevi aqui que este é claramente o tempo das mulheres: nunca houve tanta preocupação com o destaque dado ao sexo feminino nas artes, nas letras, na sociedade em geral. Programas de rádio, antologias, exposições, livros, de tudo um pouco. E agora foi a Sociedade Portuguesa de Autores que resolveu dedicar às mulheres um livro: chama-se As Mulheres e a Cultura e contém vinte e oito depoimentos de variadíssimas figuras femininas de todas as áreas possíveis. Prefaciado por Gabriela Canavilhas, este volume reúne as reflexões sobre a cultura de Aldina Duarte, Alice Vieira, Ana Zanatti, Cristina Carvalho, Inês Meneses, Irene Pimentel, Mafalda Arnauth, Teresa Rita Lopes, Yvette Centeno e muitas mais (cantoras, escritoras, radialistas, cineastas...), oferecendo assim perspectivas certamente diversas sobre esse grande assunto a que se chama «cultura» e que é a palavra mais difícil de definir e explicar. O pretexto para o livro foi uma reunião de Sociedades de Autores e Compositores que se realizou em Novembro passado e que contou com a presença de Graça Fonseca, ministra da Cultura. Vamos lá ler o que dizem as autoras.

17
Jun21

Bom regresso

Maria do Rosário Pedreira

Aviso já que ainda estou a meio gás, pois assim que voltei à terra havia tanta coisa à minha espera que ontem tive de almoçar sentada à secretária... E, como sei que não vou conseguir dar conta do recado deste blogue até ao final da semana porque apareceram umas tarefas inesperadas, deixo-vos hoje um post meio apressado, mas pelo menos são boas notícias. Eu, aliás, já me andava a perguntar que seria feito de tão querido e grande escritor e porque decidira ele castigar-nos tanto tempo com a sua ausência... Com os meus botões, cheguei até a pensar que resolvera voltar à Holanda (perdão, aos Países Baixos) e, descontente com o Portugal de hoje, não tencionasse sequer regressar (e, em certa medida, eu percebê-lo-ia). Mais eis que recebo uma bela newsletter da sua editora dizendo que, aos 91 anos, o nosso amado Rentes de Carvalho vai mais uma vez surpreender-nos e desta vez com O País do Solidó, um livro entre o conto e a crónica que terá, de certeza, a sagacidade, a coragem e o humor com que nos habituou sempre que fala de Portugal. Citando o editor: «São histórias reais de gente inventada e histórias inventadas de gente real, mulheres destemidas e homens combativos – mas também capazes de momentos desprezíveis e de atitudes medrosas. Crónicas de um país habitado por um estranho povo: os portugueses.» Sai hoje. Já têm leitura para o fim-de-semana. Que mais querem?

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