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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

30
Nov21

Viagem de sonho

Maria do Rosário Pedreira

Certamente que todos os que lêem este blogue se lembram de João Pinto Coelho, que há uns tempos nos presenteou com o retrato de muitos dos Extraordinários feito pela sua pena e é o autor do extremamente bem-sucedido Perguntem a Sarah Gross, que teve cinco edições e continua a ser uma referêcia sobre o Holocausto. Pois bem, a pedido de várias famílias e de muitos leitores, o escritor resolveu organizar uma viagem aos locais mais emblemáticos do romance, incluindo a cidade polaca de Oswiécin, praticamente ignorada pelos turistas que vão à Polónia, a majestosa Cracóvia e até os campos de extermínio de Auschwitz. E, como se não bastasse esta novidade, é o próprio João Pinto Coelho quem guiará os viajantes ao longo dos quatro dias de visita. Todo o percurso é fantasticamente explicado no site do qual forneço abaixo o link, ou não fosse este autor o mais organizado que tive até hoje (lembram-se da planta da escola em Perguntem a Sarah Gross?) e aquele que, talvez pela sua formação em Arquitectura, mais noção tem do que é uma apresentação rigorosa e bonita de qualquer projecto. Esta faz logo crescer água na boca, garanto, basta ver o pequeno vídeo de abertura e ouvir a música. Tenho a certeza de que os Extraordinários, se puderem, vão de certeza inscrever-se assim que vejam a proposta.

www.trilhosdesarahgross.com

 

29
Nov21

Pessoa e a sua casa

Maria do Rosário Pedreira

Amanhã, a Casa Fernando Pessoa faz vinte e oito anos e muitas coisas mudaram lá dentro e cá fora desde aquele dia de 1993 em que as portas da casa de Campo d'Ourique em que Fernando Pessoa viveu se abriram ao público pela primeira vez para mostrar vários objectos que pertenceram ao poeta maior, bem como móveis e livros. Pela direcção da casa, passaram pessoas com ideias  muito diferentes, como Manuela Júdice, Clara Ferreira Alves, Francisco José Viegas, Inês Pedrosa e, hoje, Clara Riso, que imprimiram à casa a sua marca pessoal e desenvolveram importantíssimos projectos (a digitalização da obra de Pessoa foi um deles e devemo-lo à escritora Inês Pedrosa). Desde há uns dias que se iniciaram as comemorações com uma oficina online sobre leitura em voz alta, orientada por Teresa Lima, especialmente dedicada a pessoas sem experiência na matéria. E amanhã a entrada na exposição da Casa Fernando Pessoa será gratuita e haverá visitas guiadas, algumas delas com interpretação em Linguagem Gestual. Ao fim da tarde, com a presença de Manuela Nogueira, sobrinha de Pessoa, haverá leitura de poemas por Ângela Pinto. Parabéns!

P. S. Amanhã também, de acordo com o que se vem tornando costume há alguns anos, o Museu da Farmácia organiza uma sessão sobre o que vamos poder ler em 2022. Abaixo o cartaz.

Convite Farmacia.png

 

26
Nov21

Excerto da Quinzena

Maria do Rosário Pedreira

Falei à Alexandra no Prozac. Ela ficou admirada. «Pensei que era contra as terapêuticas medicamentosas», disse. «Mas parece que se trata de uma coisa completamente nova», expliquei. «Não cria habituação. Não tem efeitos secundários. Nos Estados Unidos até as pessoas que não estão deprimidas o tomam porque as faz sentir muito bem.» Claro que a Alexandra sabia tudo sobre o Prozac e deu-me uma explicação técnica de como o medicamento actua, contando-me tudo sobre os neurotransmissores e os inibidores da captação de serotonina. Não consegui acompanhá-la. Disse-lhe que já andava um bocado lento na captação e que não precisava de mais inibidores, mas parece que percebi mal aquilo a que ela estava a referir-se. A Alexandra tem algumas dúvidas em relação ao Prozac. «Não é verdade que não tenha efeitos secundários», disse. «Até mesmo os seus defensores admitem que inibe a capacidade do doente para atingir o orgasmo.» «Bem, desse efeito secundário já eu ando a sofrer», por isso tanto me faz tomar o remédio como não tomar.» A Alexandra deu uma gargalhada, mostrando os dentes um pouco grandes, no maior sorriso que alguma vez consegui arrancar-lhe.

 

David Lodge, Terapia, tradução de Maria do Carmo Figueira

25
Nov21

Lamentável

Maria do Rosário Pedreira

Ontem recebi uma comunicação sobre a nova modalidade do Prémio Literário José Saramago. Este prémio, que foi fundado em vida do escritor, que o entregaria pessoalmente a todos os vencedores até à sua morte, destinava-se a estimular a carreira de jovens escritores até aos 35 anos, premiando um romance de língua portuguesa publicado no biénio anterior. Além de ter sido decidido subir para os 40 anos a idade-limite quando o prémio foi entregue a Afonso Reis Cabral, em 2019, e de este ano não ter sido atribuído para que a  próxima edição coincidisse con o Centenário de Saramago (abarcando, pensei eu, três anos de publicações), toda a filosofia do prémio foi alterada de um dia para o outro sem explicação: passou a ser um prémio para romances inéditos (tal como é o Prémio LeYa e o Prémio Agustina Bessa-Luís, ou seja, mais um) e o romance vencedor é publicado, obrigatoriamente, em Portugal pela Porto Editora (assim, nenhuma outra editora pode tirar vantagem do prémio, como até aqui acontecia, e quiçá é até uma maneira enviesada de caçar jovens autores feitos pelas outras editoras quando já estão no ponto certo). Que grande flop! Que desilusão! Além de considerar que ficam francamente lesados todos os escritores de língua portuguesa com menos de 40 anos que publicaram romances (alguns mesmo bons!) nos últimos três anos e que já não poderão concorrer, é uma lamentável falta de originalidade e, sobretudo, uma traição ao próprio patrono mudarem o espírito do prémio tal como ele o conheceu e celebrou. Ainda me custa mais saber que a Fundação que leva o nome do Nobel aceitou uma coisa destas.

24
Nov21

A volta ao mundo

Maria do Rosário Pedreira

Todos se lembraram de Verne e da sua Volta ao Mundo em 80 Dias, título agora surripiado por um livro que, apesar de ainda não traduzido em Portugal, já me está a fazer crescer água na boca. Trata-se de Around the World in 80 Books, do crítico e académico David Damrosch, nascido no Maine e professor do Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Harvard. Fui espreitar e salivei: é que as suas escolhas não são os inescapáveis clássicos de sempre (claro que está lá a Bíblia, a Divina Comédia ou o Decameron), mas livros de muitas épocas que incluem títulos bastante inesperados, como o romance gráfico Persépolis ou obras de Cortázar, Perec, Connan Doyle e Clarice Lispector. E a divisão em capítulos (folheei o índice na Amazon, embora ainda não tenha comprado o livro) é feita através de lugares, o que me pareceu extremamente original: Londres (onde está Dickens e Virgina Woolf), Paris (com Proust, Duras...), Veneza (com Italo Calvino e outros), Cracóvia (com Celan, Primo Levi ou Kafka), Cairo (com Chimamanda pelo meio) e muitas outras cidades ou países donde sobressaem escritores que conhecemos... e não conhecemos. Estou mesmo a pensar comprá-lo e dar uma volta ao mundo no sofá. Já sei que vai ser traduzido em Portugal, mas oportunamente noticiarei.

23
Nov21

Nada é inocente

Maria do Rosário Pedreira

Recebo várias vezes por semana a lista e os links das críticas, entrevistas ou meras referências a livros publicados pelo grupo editorial para o qual trabalho. Misturadas com elas, aparecem todo o tipo de artigos e notícias, desde receitas a inquéritos de satisfação, desde que neles figure algum nome (real ou semelhante) ao de um autor nosso. Mas estranhei um dia destes a inclusão nesse rol de um artigo publicado no jornal Tal & Qual, que é, na verdade, o que aqui me traz hoje, pois prende-se com a forma como, nos dias que correm, as notícias são apresentadas só para chamar a atenção dos leitores. Dizia o título: «Prostituição na agenda de Marcelo.» Quem ler isto assim de repente até pode pensar que o senhor Presidente tem agendado algum encontro com uma prostituta quando isso é totalmente falso. Afinal, há uma representante da mais velha profissão do mundo que gere um bordel em Évora, Ana Loureiro de seu nome, que, defendendo a legalização da prostituição (eu também), procura o apoio do Presidente se o Parlamento lograr fazer uma lei sobre a matéria. Ana Loureiro mandou um e-mail para a Presidência da República a pedir para ser recebida por Marcelo e foi atendida por duas das suas assessoras (embora o Tal & Qual escreva «acessoras», raios!). Não me parece, pelo que li, que o assunto tenha exactamente entrado na agenda do Professor, mas os títulos aldrabados servem para lermos as notícias até ao fim e eu caí na esparrela. Nada é inocente e eu também já tinha idade para não o ser...

22
Nov21

Dos Açores à China

Maria do Rosário Pedreira

António de Freitas, um jovem aluno do seminário de Angra nascido na ilha das Flores poucos anos antes do dealbar do século XIX, decide abdicar da vida monástica e embarcar, em 1810, numa viagem rumo aos longínquos mares da China, onde sonha fazer-se rico. Para companheiro de fortuna e infortúnios, desencaminha um rapaz que com ele estudara na Terceira, também sem vocação beata mas com apreço pela leitura e talento para a escrita, que é na verdade quem há-de contar a sua história. Depois de inúmeras peripécias e confrontos, numa sucessão de episódios de autêntica pirataria,  o par instala-se então em Macau, acabando António de Freitas por dedicar-se ao tráfico de ópio – na época, um negócio regularizado –, enquanto o seu amigo se entrega doidamente ao vício. Nas Flores, restará um dia um vistoso túmulo de tíbias cruzadas e caveira e um mosteiro cuja elevação está rodeada de mistério. Entre o relato de viagens e o romance histórico, o romance de Tiago Salazar O Pirata das Flores, acabadinho de sair, discorre sobre a aventurosa vida de uma personagem extremamente arrojada para a época, à boa maneira de um Sandokan ou de um capitão Morgan.

 

o_pirata_das_flores_6.png

 



19
Nov21

Uma revista muito especial

Maria do Rosário Pedreira

Uma das alegrias de ter este blogue traduz-se na circunstância de, uma vez por outra, haver uma alma gentil e caridosa que me propõe um tema para um post ou me presta informações que dão origem a textos para o blogue quando estou especialmente desinspirada. Desta feita, recebi um e-mail do Extraordinário Luís Filipe Sabino, dando-me conhecimento de uma revista digital editada pela Direcção-Geral de Tradução da Comissão Europeia, que importa divulgar aqui porque, pelo que me foi dado ver, é um instrumento extremamente interessante para todos aqueles que trabalham com texto, edição, tradução e revisão, a maioria dos quais (calculo eu!) nem tem a mais pálida ideia de que existe esta publicação e de que pode ser de facto de enorme utilidade: o que eu já me diverti com a fantástica lista de falsos amigos português-espanhol (alguns dos quais encontro erradamente traduzidos muitas vezes) e que gozo foi descobrir os nomes de aves de todo o mundo em português, o que teria de certeza ajudado imenso o nosso grande tradutor Francisco Agarez quando traduziu Zona de Desconforto de Jonathan Franzen, reputado romancista e ornitólogo. Muitos dos artigos prendem-se com tradução automática e software, mas outros, publicados desde 2004, debruçam-se sobre a língua portuguesa e serão muito legíveis por qualquer pessoa que se interesse por tradução. Assim, sem mais, aqui vai o link, com o agradecimento a Luís Filipe Sabino, autor também de alguns artigos:

https://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/pt_magazine_pt.htm

 

18
Nov21

Mais Saramago

Maria do Rosário Pedreira

Se fosse vivo, José Saramago teria feito 99 anos no passado dia 16, data em que se iniciaram em todo o País, e não só (suponho que Lanzarote esteja a comemorar), as celebrações do centenário do escritor que culminarão no dia 16 de Novembro, mas em 2022. Entre as muitas acções planeadas, das quais já aqui falei há umas semanas, uma delas reveste-se de especial importância porque envolve a criação da primeira cátedra que leva o nome do nosso Prémio Nobel da Literatura. É uma cátedra da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), cuja formalização aconteceu no dia 5 de Novembro, tendo como parceiros a Fundação José Saramago e a Livraria Lello, e não poderia fazer mais sentido naquele local, já que a Viagem a Portugal, recentemente reeditada num belo volume, começa exactamente em Miranda do Douro e estende-se por todo o território do Nordeste transmontano. A cátera terá como áreas de actuação, além do ensino propriamente dito, a investigação e a acção cultural, incluindo tertúlias, conferências, seminários, cursos, teatro e residências artísticas. Haverá naturalmente um foco na obra de Saramago, mas as actividades não se reduzirão à obra do mestre nem ao território nacional e pretendem envolver toda a população local. De algum modo, serão também implicados aqueles que venceram o Prémio Literário José Saramago da Fundação Círculo de Leitores. A série de documentários sobre eles, Herdeiros de Saramago, de Carlos Vaz Marques, acaba, de resto, de ser justamente premiada.

 


 

17
Nov21

Mulheres na Presidência

Maria do Rosário Pedreira

Um dos programas da Presidência da República é aproximar a escola da cultura portuguesa, convidando turmas de alunos de várias idades para ouvirem e dialogarem com, chamemos-lhes assim, personalidades dos mais variados âmbitos. Num ano foi com escritores, noutro com cientistas, noutro com artistas plásticos e não só; e, se não me engano, houve igualmente encontros com desportistas, alguns deles de renome internacional. Com todos se aprende e, a reboque destes encontros, os miúdos podem visitar o Palácio de Belém e os seus magníficos jardins. Desde o princípo de Outubro, o Presidente soube aproveitar o facto de as mulheres estarem na moda e resolveu dedicar-lhes um ciclo intitulado Mulheres de Coragem, no qual mulheres com vidas para contar vão  a Belém conversar com alunos de todo o País sobre as suas experiências. Já foi a vez de Carmen Garcia, uma jovem enfermeira que se tornou conhecida por causa de um blogue e é cronista de jornais, Selma Unamusse, a belíssima cantora, ou Rute Neves, comandante dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso; mas até ao fim do ano, os miúdos ainda terão oportunidade de ouvir a fadista Aldina Duarte, a ilustradora Yara Kono e a realizadora Cláudia Varejão. Para o ano há mais.

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