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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

29
Jul22

A Feira do Livro

Maria do Rosário Pedreira

O blogue tira férias em Agosto, mas é bom não esquecer que dia 25 abrem as Feiras do Livro do Porto e de Lisboa. Esta última será a 92.ª e terá como país convidado a Ucrânia. Importa dizer que nunca outra teve tantos participantes, pois haverá 340 pavilhões, mais dez do que no ano passado, que representam quase centena e meia de editoras e outras entidades com publicações regulares. Mas o que importa mesmo dizer é que vai ser tudo completamente diferente e muito mais sustentável, porque, além de a bicicleta ser o meio de transporte por excelência no recinto, os pavilhões serão novinhos em folha, em dois módulos distintos (um aberto e um fechado),  com acesso facilitado para pessoas com mobilidade reduzida e, ainda por cima, construídos a 100% com materiais recicláveis, vantagem que se estenderá também ao auditório e às praças onde os autores autografarão os seus livros. O certame estará aberto até dia 11 de Setembro, mas nessa altura já eu terei voltado de férias com novidades. Boas férias a todos. Descansem e... leiam, pois claro.

pavilhao-feira-livro18277438defaultlarge_1024.jpg

28
Jul22

Prémio

Maria do Rosário Pedreira

Se aproveitou este ano para escrever poemas, ou rever aquele livro que estava a aboborar há que tempos numa gaveta, ou organizar textos vários que encontrou numas arrumações e, se calhar, são matéria suficiente para um pequeno volume, há um prémio de Poesia a que pode concorrer. Chama-me Prémio Afonso Lopes Vieira, organiza-o a Biblioteca Municipal de Leiria e dedica-se em biénios sucessivos à literatura infantil, à poesia e ao conto, mas em 2022 visará especialmente os livros de poesia inéditos a aguardarem uma possibilidade boa de verem a luz nos escaparates de algumas livrarias por esse país fora. O prazo para a entrega de originais termina no dia 15 de Setembro, mas estou já a avisar, dando tempo a alguns leitores do blogue de aproveitarem o mês de Agosto, habitualmente relaxado, para se organizarem e concorrerem, até porque os 5000 euros que cabem ao vencedor darão muito jeitinho em tempos como estes. Está na hora de arriscar. Para a leitura do regulamento, consulte o site da biblioteca.

Premio ALV.jpg

27
Jul22

O que ler a seguir

Maria do Rosário Pedreira

Quando estou de férias numa praia em que há ingleses, reparo com agrado que as crianças se fazem acompanhar quase sempre de um livro, por pouca idade que tenham. No Reino Unido os hábitos de leitura na infância estão completamente enraizados e isso pode também ser explicado pela quantidade de autores britânicos de excelência que escrevem para crianças há mais de um século. Dizem-me que em Portugal os mais novinhos também lêem bastante, mas que perdem esse bom costume na viragem para a adolescência ou um pouco mais tarde, pois não existe uma literatura de transição. Eu cá passei dos livros infantis para os de adulto, mas presumo que não seja assim com toda a gente. Encontrei, porém, esta ideia genial no Facebook de Nelson Ferreira da Silva (acompanhem-no, porque se encontram coisas muitíssimo interessantes entre o que divulga): usando as linhas de metro (e cada linha tem uma personalidade específica que corresponde ao género preferido por um determinado grupo), traça-se um percurso em que, depois de lido um livro (uma estação) se sugere passar a outro (a estação seguinte). Uma ideia que só podia ser inglesa, digo eu, gizada pela biblioteca infantil do Barbican Centre, e que seria maravilhoso que o nosso PNL, por exemplo, fizesse nas escolas portuguesas. E porque não para adultos também? Eu cá estou com dúvidas sobre o que vou ler a seguir...

Mapa do metro com livros.jpg

26
Jul22

Proibir livros? Não.

Maria do Rosário Pedreira

Queixávamo-nos da censura e dos livros apreendidos no tempo do fascismo e de outras ditaduras, mas em democracia continua a saga dos livros «proibidos». Agora, tudo o que seja susceptível de ofender uma minoria é posto de lado e afastado dos programas de ensino em muitos países, e sem sequer se ter em conta o contexto ou a época em que foi escrito. Livros importantíssimos e autores de peso são subitamente banidos por razões verdadeiramente ridículas (o beijo do príncipe na Bela Adormecida, por exemplo, considerado por alguns «não autorizado» e portanto, no limite, uma violação), num acto que é tão estúpido como quando a nossa PIDE levava das suas buscas a livrarias biografias de Stravinsky ou Nijinsky só por serem nomes russos… Leio, porém (obrigada, Nelson Ferreira da Silva) que a salvação está talvez nos adolescentes: uma jovem norte-americana de catorze anos, fartinha de ver «livros que nos fazem pensar» serem proibidos na sua escola e em comunidades de leitores, criou um clube de leitura de livros banidos (e estes podem ser, por exemplo, A Quinta dos Animais ou O Deus das Moscas) em que os membros lêem livros censurados e depois se encontram para os discutir. Abençoada Jocelyn Diffenbaugh! Com direito a entrevista no Washington Post, é uma jovem a seguir, evidentemente! E há outros ainda mais novos, basta ver no primeiro link abaixo. Ouçam os mais novos e deixem-se de comportamentos ditatoriais, por favor. A entrevista com Jocelyn vai no segundo link.

https://www.today.com/parents/teens/banned-book-clubs-rcna13965

https://www.washingtonpost.com/lifestyle/2022/05/11/banned-book-club-teen-diffenbaugh/

 

 

25
Jul22

Teatro

Maria do Rosário Pedreira

Lembro-me de ter escrito uma peça de teatro para estrear no dia do meu 10.º aniversário (sobre uma princesa que era raptada) e de lá em casa fazermos bastantes teatradas e assistirmos a comédias na televisão quando havia, às terças-feiras, um programa chamado Noite de Teatro. Lembro-me também de, já adolescente, ler textos teatrais de Tchekhov, Sartre, Genet, Brecht e Pirandello e de adorar o nosso Gil Vicente, tendo até colaborado na adaptação da Farsa de Inês Pereira no ano em que acabei o liceu e de ter feito um papel secundário nessa peça. Mas o género literário «teatro» é hoje muito pouco lido, seja por adultos, seja por crianças e jovens, mesmo que – admito – haja uma programação teatral de qualidade muito mais ampla do que na minha juventude e muita gente frequente os teatros, que já não são papões para ninguém. Ainda assim, era talvez necessário que as escolas portuguesas introduzissem melhor o teatro, convocando para a «representação» os seus alunos, em vez de os mandarem simplesmente ler em casa o Frei Luís de Sousa e dissecá-lo na aula. Os franceses põem a miudagem a representar as peças de Molière e Racine no tempo lectivo (e eles aprendem-nas muito melhor assim) e, no Reino Unido, no final do sexto ano, a neta de uma amiga e os colegas representaram Shakespeare no fim do ano, desenhando cartazes e bilhetes e sendo Romeus e Julietas por um dia. É preciso imaginação, não podemos deixar, como está a acontecer em Portugal, que os estudantes achem o Gil Vicente uma seca...

Romeu.jpg

bilhete.jpg

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22
Jul22

Excerto da Quinzena

Maria do Rosário Pedreira

«Diz ela que o mundo nem sempre foi assim. Noutros tempos, a avó corria à beira do rio com um pau de vime na mão a espantar os espíritos dos mortos e batia nas pedras e na água como se sacudisse os males da Terra. Tecia nos lábios uma ladainha, uma canção que se misturava na corrente e na espuma dos rápidos.

Diz ela que o mundo era diferente: as árvores frutavam-se de forma espontânea, como se tivessem vida própria, e ninguém as regava e podava. Os muros enchiam-se de musgos, campainhas e pipilros, brotavam cogumelos de todas as espécies em todos os cantos e era possível ler nas rugas e nas entranhas dos troncos o destino dos viventes.

Cada um sabia quem eram os outros e cada qual conhecia todos e mais do que a eles, os pais e avós, às vezes os bisas e tudo assim, mesmo na linha colateral, ou seja, primos e tios e por diante. Ainda és prima do Caneco diziam-lhe; e era, numa distância que se perdera em várias gerações de nascimentos e mortes sucessivas, mas ao vê-la passar sentiam essa ternura que habitava algures num canto da sua genealogia.»

António Tavares, O Coro dos Defuntos

21
Jul22

Feira do Livro

Maria do Rosário Pedreira

O importante é descentralizar a cultura, passamos a vida a dizê-lo, e portanto há uma boa notícia esta semana: a 26.ª edição da Feira do Livro de Ponte de Lima vai acontecer de hoje até 24 de Julho para não dizerem que é só no Porto e em Lisboa que tudo se passa. O certame, que terá lugar na Expolima, vai incluir mesas-redondas, debates e conversas com escritores, apresentações de livros e sessões de autógrafos, mas também as menos correntes sessões de poesia; haverá ainda uma programação infanto-juvenil para grupos de crianças, contemplando leituras de contos para os mais pequeninos e oficinas. Como a música não podia ficar de fora, esperam-se igualmente alguns concertos para abrilhantar a feira. Entre os autores convidados, estão Tânia Ganho, Nuno Camarneiro e João Reis – e não escapará José Milhazes, o ex-correspondente da RTP que anda a correr o país com a sua Breve História da Rússia, um verdadeiro bestseller! O jornalista João Morales moderará algumas das conversas. Se está pelo Norte, já sabe aonde ir nos próximos dias.

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20
Jul22

Mudar

Maria do Rosário Pedreira

Nat, uma tradutora free-lancer, resolve mudar-se para uma aldeia chamada La Escapa, pensando assim poder viver melhor com o dinheiro que ganha. Estranha, claro, o isolamento e os habitantes um pouco brutos, o silêncio e a dureza do senhorio que, na verdade, lhe arrenda uma casa a cair aos bocados e não quer fazer reformas nem pagar os arranjos. Mas estranha sobretudo o preconceito, pois ninguém percebe o que faz sozinha uma mulher como Nat num meio rural que é visivelmente atrasado e onde nada se passa. Mesmo o cão, que Nat arranja para não se sentir tão só, é arisco, avesso a festas e demasiado difícil de dobrar. E um dos seus vizinhos, a quem chamam «o alemão» e que foi ele próprio também um forasteiro, além de tratar da horta e vender legumes, faz a Nat uma proposta que só não é absurdamente indecorosa porque é feita aparentemente com o maior decoro. É este o argumento muito resumido de Um Amor, da espanhola Sara Mesa, livro que, se calhar, merecia uma tradução um bocadinho menos colada ao castelhano e que, apesar de ter sido considerado um dos melhores livros de 2020 no país aqui ao lado, é menos interessante do que eu esperava (mas quem me mandou criar expectativas sem conhecer a autora? Pode ser só uma embirração minha com a escolha do presente como tempo da narração). Se quiserem, o romance é também um excelente retrato da interioridade (falo da interioridade de um país, mas podia falar igualmente da das suas personagens) e vale pelas surpresas do enredo em que  a protagonista se vai sempre confrontando com as suas próprias acções e a moral e vai tendo cada vez mais dificuldade em exercer o seu ofício, que é traduzir.

19
Jul22

Férias grandes

Maria do Rosário Pedreira

Agora, que vêm aí, para a maioria das pessoas, as desejadas férias (infelizmente, já não as grandes, que duravam quase quatro meses e davam para tudo, até para desejar o regresso às aulas), já estou a planear as minhas leituras. Não me lembro, porém, de os professores me mandarem ler livros ou fazer trabalhos nas férias quando era pequena, porque, na verdade, férias tinham de ser um tempo para brincar e descansar, mesmo que para algumas crianças ler fosse também uma brincadeira muito apreciada. Recordo-me de alguns livros que li nas férias em miúda (oh, como chorei com O Meu Pé de Laranja Lima, lido em Agosto em São Pedro do Estoril aos nove ou dez anos); mas, para dizer a verdade, além da praia de manhã e de irmos para o pinhal à tarde, onde as mães conversavam ou faziam crochet sentadas em cadeiras de lona e nós jogávamos às escondidas e apanhávamos amoras das silvas, do que gostava mesmo era de andar de bicicleta, de pescar rãs num pântano perto de casa, de explorar uns baldios, de dar saltos das pranchas na piscina, enfim, de actividades ao ar livre que implicavam não parar quieta. Por isso, achei muita graça um dia destes a alguém que partilhou, contente, os trabalhos que a professora do filho mandou para férias. Partilho-os convosco. Podem ser um bocado melosos, não digo que não. Mesmo assim, abençoada professora.

Para blog.jpg

18
Jul22

Reler

Maria do Rosário Pedreira

Hoje estou com muito pouco tempo para o blogue, pois é dia de ir com a minha mãe a uma consulta de ortopedia em Santa Maria e a logística é complicada; mas deixo-vos ainda assim uma interessante reflexão que o escritor e professor universitário Nuno Camarneiro fez recentemente no Facebook a propósito de relermos livros em idades diferentes. Reza assim:

Há poucos exercícios tão interessantes e introspectivos como reler um livro que nos marcou há 10 ou 20 anos. O livro é o mesmo, mas nós somos outros e vamo-nos apercebendo da diferença com susto e espanto. Há tanto que não sabíamos e passámos a saber e há outro tanto que já esquecemos. Há coisas que achámos geniais e que agora parecem banais e outras a que não ligámos e a que agora damos relevância. O texto é o mesmo, mas nós mudámos e o mundo mudou também. «Não nos podemos banhar duas vezes nas mesmas águas», dizia Heráclito, e também não podemos ler duas vezes o mesmo livro.

Fiquei a pensar em como me doeu voltar a Resta a Noite, de Soledad Puértolas, por exemplo, mas como o Amante, de Marguerite Duras, permaneceu intocável...

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