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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

31
Mai24

Excerto da Quinzena

Maria do Rosário Pedreira

Alegria precisa-se

Concordo com o Gonçalo M. Tavares quando diz que uma das coisas realmente importantes é a alegria. E dou comigo a pensar que conheço muito poucas pessoas alegres (não confundir com "eufóricas" ou "patetas-alegres", ou algo do género), a começar por mim, como se ser alegre estivesse fora de moda ou fosse um estado difícil de assumir, por uma razão qualquer. Por exemplo, no meu caso, o que sinto por vezes é uma alegria breve, embora seja o bastante para me pôr em andamento, como o motor de uma máquina. É a força da alegria de que fala o Gonçalo que nos empurra para a frente. Já a tristeza tem o poder de imobilizar, ou abrandar, ou mesmo bloquear qualquer movimento vital. Em mim, num só dia podem gerar-se os dois sentimentos. No sábado de manhã tive a aleria de encontrar a Maria Gil. [...] A alegria breve deste encontro anulou a tristeza de "duas baixas" no meu círculo de amigos, embora não habituais nem muito próximos, por mal-entendidos que não consegui desfazer [...]

 

Dina Ferreira, Os Dias de Uma Ex-Livreira à solta

29
Mai24

História de um dom

Maria do Rosário Pedreira

Em dezassete anos do Prémio LeYa, venceram ou foram finalistas numerosos livros de autores que nunca tinham publicado. Um deles, João Ricardo Pedro, engenheiro de telecomunicações, ficou conhecido porque estava desempregado quando resolveu escrever ficção, tendo a sua vitória sido notícia em toda a Europa em plena crise económica (estávamos em 2011), o que lhe valeu ser traduzido em mais de dez línguas. O Teu Rosto Será o Último (assim se chama o romance) é fragmentado, originalíssimo e muito bom (especialmente sendo uma estreia!) e chamou logo a atenção do realizador Luís Filipe Rocha (autor de pérolas como Cerromaior, Sinais de Fogo, Adeus, Pai, o argumento da série Até Amanhã, Camaradas, ou mais recentemente Rosas de Ermera, que fala da permanência dos pais e da irmã de Zeca Afonso em Timor quando a ilha foi  ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial), que quis adaptá-lo ao grande ecrã. Passou bastante tempo desde então, é certo, mas na próxima semana será a antestreia do filme e todos poderão assistir a partir daí a esta história de um rapaz que tem um dom especial para o piano, mas não consegue aceitar a pressão de ser um génio. Amanhã, pelas 21h00, no espaço da LeYa na Feira do Livro de Lisboa, o realizador e o autor do livro vão falar do que foi esta experiência com o jornalista Rui Lagartinho. Apareça e será muito bem-vindo. Depois, claro, veja o filme.

28
Mai24

Rio-Lisboa

Maria do Rosário Pedreira

Já que só se fala de música e de Taylor Swift em todo o lado (quem me dera que os escritores tivessem metade do público dela...), hoje trago também música a este blogue. Há uns anos, tomei conhecimento de que havia um projecto muito giro chamado Rio-Lisboa, que combinava fado e bossa-nova, e não pude ficar indiferente. O seu mentor, Bruno Fonseca, compositor e também guitarrista (entre outros géneros, de fado), convidou-me na altura para eu escrever uma letra, e gostei muito do som e das vozes desse álbum (as vozes vão variando de disco para disco, com a presença vitalícia de alguns membros como, por exemplo, Luanda Cozetti). Este ano o Rio-Lisboa homenageou a Revolução com novo álbum (chama-se Revolução) e convidaram belíssimos letristas como André Gago, João Monge ou Pedro da Silva Martins (que pertencia ao grupo Deolinda), além de me terem instado a reincidir, o que fiz com todo o prazer numa letra chamada "Às claras". O álbum foi seleccionado pela Antena 1 e o grupo está a fazer concertos nas FNAC para o dar a conhecer, além de vários espectáculos pelo País fora. Se gosta de fado e de MPB (música popular brasileira), não hesite em ouvir. É mesmo uma bela combinação.

27
Mai24

Paradoxos

Maria do Rosário Pedreira

Há menos de nada li um destaque na plataforma que alberga este blogue (a Sapo) referindo uma leitura por outra blogger de um conto de José Luís Peixoto publicado na Visão há quase vinte anos e chamado "Minto ao dizer que minto". É um conto sobre o próprio autor, usado neste contexto como personagem, o que não é inédito na obra de José Luís Peixoto, pois uma das suas primeiras narrativas curtas, publicada salvo erro na saudosa revista Ficções, tinha-o também a si mesmo como personagem. Mas aqui o que me interessa é o título do conto ser um paradoxo, pois levou-me de repente ao Paradoxo de Epiménides, aprendido há séculos. Epiménides, que nascera em Creta, disse um dia: "Todos os cretenses são mentirosos." Mas, sendo ele cretense, está a mentir-nos, certo? Bem, este paradoxo, citado numa das Epístolas de S. Paulo, é um daqueles enunciados que é verdadeiro se for falso e falso se for verdadeiro, uma vez que Epiménides é cretense e, portanto, mentiroso. Quando publiquei alguns livros de paradoxos de Martin Gardner numa outra "reencarnação editorial", percebi que afinal poderia ter adorado matemática e lógica quando era aluna do liceu. Infelizmente, couberam-me matérias muitíssimo mais aborrecidas e professores incapazes de aplicar a matemática ao jogo e ao quotidiano. Recomendo, para quem não conheça, os livros bestialmente divertidos de Gardner, ilustrados por um artista com um traço parecido com o de Sempé. A matemática às vezes é tão incrível como a literatura, mesmo para leigos, como é o meu caso.

24
Mai24

Casa-armadilha

Maria do Rosário Pedreira

Caruncho, um pequeno romance, faz furor no país vizinho, o que é realmente justificado. Layla Martínez, a sua autora, é mais uma escritora de língua espanhola a debruçar-se sobre a luta de classes, tal como o fizeram a chilena Alia Trabuco em Limpa, a mexicana Fernanda Melchor em Paradaise ou a espanhola Elena Medel em As Maravilhas, escancarando as injustiças a que os pobres estão sujeitos desde sempre, especialmente os que servem burgueses novos-ricos que parece que têm prazer em humilhar o pessoal doméstico. Traduzido e posfaciado por Guilherme Pires, Caruncho tem duas narradoras, avó e neta, mas na verdade fala ainda de outras duas mulheres: a bisavó que soube livrar-se de um marido violento e infiel de maneira bastante original; e a filha da avó e mãe da neta, cujo fantasma circula agora pela casa que é, talvez, a principal personagem deste livro, porque encolhe e dilata, abraça ou repele, acolhe os mortos num armário e debaixo das camas, faz com que as panelas se despenhem no chão todas ao mesmo tempo. Herdeira do realismo mágico de Rulfo misturado com a beatice do catolicismo ibérico, e também dos contos de terror (evocou-me alguma coisa dos emparedados de Edgar Allan Poe em certas partes), consegue ser ao mesmo tempo uma novela extremamente moderna, com uma pontuação e um léxico que ajudam a identificar a voz das narradoras. Gostei muito, venham mais, Layla Martínez. Até porque a luta de classes continua e não podemos esquecê-la de maneira nenhuma.

23
Mai24

Homenagem

Maria do Rosário Pedreira

No último ano perdemos alguns dos nossos grandes, entre eles António Mega Ferreira, uma das figuras mais cultas que Portugal já teve. Tive o orgulho de trabalhar com ele no final do século, quando Portugal foi o país convidado da Feira do Livro de Frankfurt, e depois acabei por ajudar a fazer os programas do Festival dos Cem Dias, da Expo'98, regressando logo a seguir à edição. Alguns amigos e pessoas próximas de Mega Ferreira vão fazer-lhe uma homenagem no próximo dia 28, às 18h30, na sala de Âmbito Cutural do El Corte Inglés. Filipe Pinto-Ribeiro tocará o ciclo para piano Quadros de Uma Exposição, de Mussorgsky, que era uma das peças favoritas do poeta, ficcionista, ensaísta e gestor cultural, e os diseurs Filipa Leal e Pedro Lamares vão ler um conjunto de poemas seus escolhidos por pessoas que o acompanharam em vida, como José Manuel dos Santos, Patrícia Reis, Duarte Azinheira, João Paulo Velez, Margarida Pinto Correia, Pedro Mexia ou Guilherme d'Oliveira Martins. Uma bela maneira de recordar um intelectual que sabia de cor o hino do Benfica e era das pessoas mais inteligentes e rápidas que conheci.

22
Mai24

Livros no Parque

Maria do Rosário Pedreira

Comecem a contar os dias (ou a descontá-los) porque de hoje a uma semana, no dia 29, começa a 94ª Feira do Livro de Lisboa, esse acontecimento anual onde gastamos sempre imenso dinheiro, mas onde podemos ver os livros mais recentes ou intemporais de quase todas as editoras portuguesas num único dia. Ufa! Para a dor que ainda tenho na perna direita (não estou curada, infelizmente, mas já tenho uma consulta agendada com outro médico) vai ser um suplício, mas, não podendo fazer a feira toda de uma vez (a subir, ainda por cima!), tenho até dia 16 de Junho para me entreter e, pelo caminho, assistir às sessões de autógrafos, às leituras de poesia, aos concertos, aos debates, às muitíssimas actividades paralelas para as quais, em geral, há umas cadeirinhas para nos sentarmos e repousarmos. Os horários de segunda a quinta serão das 12h às 22h; às sextas e vésperas de feriado teremos o fecho às 23h (mais uma horita para umas últimas compras); ao sábado estaremos em grande das 10h às 23h; e aos domingos e feriados das 10h às 22h. Mas a noite pode estender-se para as crianças mais destemidas dos 8 aos 10 anos que queiram acampar em tendas no parque e ouvir/ler histórias debaixo dos jacarandás. Vamos certamente ver-nos por lá e isto é só um aviso, pois voltarei a dar novidades sobre os primeiros dias da Feira muito em breve! Tomem nota das datas.

21
Mai24

Presentes do 25 de Abril

Maria do Rosário Pedreira

Tenho reparado nas minhas incursões às livrarias que este ano saíram numerosos livros sobre o 25 de Abril. Memórias, álbuns de fotografias de época, livros infantis que explicam às crianças o antes e o depois, colectâneas de canções de intervenção, um sem-fim de ideias muito bem-vindas que ajudam quem ainda não era nascido em 1974 a conhecer o que foi esta magnífica revolução, e quem assistiu a ela a louvá-la e recordá-la. Um dos mais bonitos projectos sobre a data mais linda foi uma caixa de postais produzida pela Câmara Municipal de Grândola: 50 postais (um por cada ano que já passou) escritos e pintados por artistas contemporâneos e guardados dentro de uma belíssima caixa; entre os autores, nomes como Afonso Cruz, Gonçalo Tavares, Jacinto Lucas Pires, Germano de Almeida, eu mesma (passe a imodéstia) ou Onésimo Teotónio de Almeida escrevem no verso de desenhos lindos feitos por Paulo Galindro, Mariana a Miserável, Mafalda Milhões ou Bernardo Carvalho, só para referir alguns. Também muitíssimo interessante é o livro de Luís Robalo Caderno de Abril, que foi lançado recentemente e que revisita canções para contar memórias pessoais em tom de crónica de uma época que quem viveu não esquece. Mais difícil de encontrar por ser uma edição creio que de autor (eu recebi-a de presente, obrigada ao escritor!), pode ser pedida pelo endereço de correio electrónico luispires60@gmail.com. Com estes dois já fica bem servido, mas há, claro, muitíssimo mais projectos abrilescos que ficarão para falar nos meses que aí vêm.

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20
Mai24

Excerto da Quinzena

Maria do Rosário Pedreira

(Era sexta, mas esqueci-me.)

«Após dis a chocar uma virose, fico com febre e sinto. De súbito, a necessidade premente de reler um romance em particular. Só entendo prquê quando me sento na cama e o abro. Na página de rosto, deparo com uma dedicatória escrita a azul e numa caligrafia inconfundível:

29 de maio de 1996

Desejo-te rápidas melhoras.

Trouxe-te crepes e sidra do Fyra Knop.

Estou ansiosa por regressar lá contigo.

Beijos (que preferiam pousar nos teus lábios)

Johanna

Tinha malária quando me ofereceram o livro. Fora infetada algumas semanas antes no Serenguéti. Um mosquito picou-me na tenda em que dormia e adoeci assim que regressámos à Suécia. Fiquei internada no hospital de Hudiksvall. De  início, não sabiam como interpretar os resultados dos meus exames, e quando, por fim, me diagnosticaram com malária, todos os médicos do hospital fizeram fila para ver de perto a mulher com a doença exótica […]»

 

Ia Genberg, Os Detalhes, tradução de João Reis

17
Mai24

O Japão dos Portugueses

Maria do Rosário Pedreira

Japão, 1637. Na sequência dos avultados tributos exigidos às populações e da proibição de professar o cristianismo, cerca de 35 000 camponeses e cristãos, liderados por um general-menino que tem a reputação de fazer milagres, invadem várias fortalezas governamentais e acabam por instalar-se no desactivado castelo de Hara, que reconstroem em conjunto e onde resistem, ao longo de vários meses, ao cerco das tropas do xogunato. Entre os que lutam contra a tirania imposta, encontram-se Jana – uma viúva que chega com o filho pequeno – bem como o ronin Haru – samurai renegado e agora ao serviço do povo. Apesar do ódio que inicialmente nutrem um pelo outro, Haru não consegue ficar indiferente a essa mulher que carrega um mistério e sabe pegar em armas, nem ao ciúme que lhe provoca a relação dela com o missionário Clarimundo, um dos poucos portugueses que ainda não deixaram o Japão. Numa confusão que só o caos da guerra poderia causar, os sentimentos entre estas três personagens vão exacerbar-se à medida que a batalha evolui. Tal como no final do cerco, não existirá redenção, só a grande busca da liberdade e do amor. Coração-Castelo é o aguardado regresso de Raquel Ochoa ao romance histórico e foi finalista do Prémio LeYa. Se quiser acompanhar-nos no lançamento, apareça mais logo, aqui está o convite.

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