História de uma paixão
Quase todos (se não todos) os escritores são leitores desde muito jovens – e é a leitura que acaba por levá-los provavelmente à escrita. Mas nem todos serão bibliófilos como o britânico Julian Barnes, de quem li recentemente um delicioso opúsculo que parte de um artigo publicado no jornal The Guardian no ano passado e chamado My Life as a Bibliophile. Nele, o autor conta que beneficiou claramente de não ter televisão em casa nos primeiros dez anos de vida e de ter sido criado por pais (e avós) professores que tinham bibliotecas respeitáveis, embora confesse que estas não o excitavam por aí além e que foi o despertar do sexo que o levou a investigar com mais atenção as prateleiras (assim lendo o Satyricon, de Petrónio, aos onze anos, que era o livro mais escaldante que havia nas estantes). A partir de então, tornou-se um leitor feroz, um coleccionador de primeiras edições e um consumista de obras literárias – um bibliómano, como nos diz –, frequentando pequenas livrarias de bairro e alfarrabistas e gastando mais de metade dos seus rendimentos mensais em livros e colecções. Hoje, tantos milhares de livros depois, não gosta muito de e-books, confessa – acha que cada livro em papel tem um toque e um cheiro específicos e que os livros electrónicos cheiram todos ao mesmo (a nada). Conclui que ler é uma capacidade que quase todos têm, mas uma arte para poucos: sempre houve não-leitores, leitores preguiçosos e maus leitores – e continuará a haver. Espero é que os bons leitores como Barnes também se mantenham por muito tempo.