Abstenção
Rui Zink publicou recentemente um artigo de opinião no jornal Público sobre a falta de crença de muitos jovens na democracia, jovens que, por isso, não iam às urnas (e que ele, como bom democrata, aconselhava logicamente a mudar de atitude). Não creio, mesmo assim, que a falta de fé na democracia seja a única causa da abstenção entre os jovens. Um dia destes, na FNAC do Chiado, estávamos em vésperas de eleições autárquicas, o Manel ouviu uma conversa entre dois rapazes que reproduzo aqui:
– Ó pá, tu amanhã vais votar?
– Eu? Não, não tenho pachorra. E tu?
– Eu tenho de ir, a minha mãe obriga-me.
– Obriga-te como?
– Ela é funcionária pública e quer que eu vá votar num tipo qualquer que é bom para ela.
– Ah, mas então porque é que não votas por SMS?
– Acho que não se pode.
– Hum... Que seca, pá.
Não vejo bem, em primeiro lugar, como é que um voto nas autárquicas interfere com decisões sobre leis que possam beneficiar ou defender funcionários públicos, mas nem é isso que está em causa. O ir votar para estes jovens tem peso de coisa chata – e o pior é que estão num espaço cultural, pelo que era de esperar que tivessem um pouco mais de informação e, sobretudo, de sentido crítico e vontade de mudança. Enfim, quantos casos destes haverá que vão fazer crescer eternamente os números da abstenção?