Gigantes em xeque
A Feira Internacional do Livro de Frankfurt é o mais importante certame do mundo em torno do livro e da edição (e um dos mais antigos também). Neste ano, o discurso inaugural do director da feira, Juergen Boos, e as declarações do presidente da Associação de Editores e Livreiros da Alemanha, Gottfried Honnefelde, revelaram grande preocupação com o que circula actualmente na rede, dizendo que os que a governam não se interessam minimamente pelo rigor e pela qualidade dos conteúdos; puseram o dedo na ferida da Apple, da Amazon e da Google, chamando-lhes «mágicos da logística», mas não editores, e considerando inclusivamente «reaccionário» que mostrem aos leitores aquilo de que eles gostam, recomendando-lhes livros a partir das pesquisas e das compras anteriores e retirando-lhes capacidade de escolha e reflexão individual. E alertaram para o facto de empresas como a Amazon e a Google quase terem acabado com a concorrência, sublinhando a importância de novas empresas que apresentam formas originais e dignas de atrair leitores – as start-ups – a que esta feira é especialmente dedicada. Claro que todos sabemos que a leitura está a mudar e que as novas tecnologias contribuem largamente para um novo paradigma que ainda não sabemos bem o que será. Mas nos últimos tempos descobrimos muitos dos livros que publicámos pirateados e à venda na Google Books em versão integral quando a edição em papel mal acabara de ser distribuída. O nosso advogado tratou do assunto, bem entendido, mas já aconteceu retirarem o livro da página e ele reaparecer mais tarde como se nada fosse. Enfim, pôr em xeque os gigantes no maior acontecimento anual à roda do livro pode ser que produza algum efeito nesta e noutras matérias.