A vida moderna
Não sei o que aconteceu ao mundo, nem quando foi exactamente que a mudança se operou, mas a verdade é que, sobretudo nas grandes urbes, as pessoas deixaram de ter tempo. Embora os ponteiros do relógio rodem ao mesmo ritmo em todo o lado e desde que há relógios, as pessoas queixam-se cada vez mais de que o tempo não lhes chega para tudo o que têm de fazer desde que acordam até que se metem na cama para dormir. E um estudo encomendado por um grupo editorial britânico – Egmont – referido num interessante artigo publicado no Guardian vem mostrar que esta vida moderna que vivemos a uma velocidade estonteante fez diminuir até níveis que me parecem drásticos o hábito de os pais lerem histórias aos filhos ao deitar (parece que só 2% das famílias resistem) e de os professores primários dedicarem tempo das suas aulas à leitura de livros com os alunos. A falta de bibliotecários nas escolas e a cada vez maior rigidez dos programas são duas das razões apontadas para este decréscimo, mas também o aparecimento dos touch screens de tablets e telemóveis, que as crianças usam de forma intuitiva sem qualquer ajuda e dificilmente trocam por um livro que não podem ainda ler sozinhas – a ponto de os especialistas acharem que dentro em breve as televisões vão ter de substituir os seus ecrãs estáticos por outros sensíveis ao toque. Os autores do estudo acham que os livros infantis digitais são uma boa oportunidade para as crianças, que assim poderão juntar o útil ao agradável, lendo histórias num tablet e podendo inclusivamente escolher entre várias (como fazem com os jogos). Mas não era suposto os pais pararem de se desculpar com a falta de tempo e lerem com elas um bocadinho todas as noites? A vida moderna trouxe-nos coisas óptimas, mas não há aparelho nenhum que substitua um momento de leitura em companhia de quem amamos.