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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

02
Dez13

Pensar antes de agir

Maria do Rosário Pedreira

Ao longo da minha vida profissional, pude acompanhar algumas polémicas entre intelectuais, fosse através de relatos em livros que li ou editei – de António José Saraiva, por exemplo, ou na reedição de Rumor Branco, de Almeida Faria –, fosse assistindo, mais ou menos em directo, à zanga entre figurões em cartas duras e azedas publicadas nos jornais. Algumas dessas polémicas eram, de resto, notáveis na sua qualidade literária e pensante e dignas de grandes cabeças, mesmo que nem sempre concordássemos com a matéria em discussão. Creio que um autor que é vítima de uma crítica desonesta ou falsa deve responder ao autor do texto. Uma vez, quando eu escrevia livros juvenis, saiu uma recensão a um livro meu na qual se dizia que as personagens eram demasiado bem-falantes para a idade em certas passagens, oferecendo um excerto como exemplo; só que, por acaso, nesse excerto as personagens estavam a ler, e não a falar… Escrevi uma carta ao jornal e a coisa esclareceu-se. Desde então nunca mais respondi a críticos, embora de vez em quando me apetecesse defender os meus autores de alguns textos não muito bem-intencionados sobre obras suas e, sobretudo, quando se percebe que o crítico não os leu, só folheou (como num caso em que o romance tinha três personagens e o recenseador mencionava apenas duas). Recentemente, pareceu-me, mesmo assim, um bocado insólito que um poeta se tenha insurgido contra um crítico que elogiava a sua obra num jornal. Estava furioso com o facto de metade do texto serem citações de poemas do livro e, em blogue pessoal, mandava o crítico meter as quatro estrelas que lhe atribuíra num certo sítio (acentuando, ainda por cima, o U). Com razão ou sem ela, os termos em que se queixou mancharam a excelência da sua poesia – e o crítico respondeu com luva branca e saiu a ganhar. Mais valia o poeta ter pensado antes de agir, digo eu. Nas velhas polémicas, mesmo com verrina e sangue, tenho ideia de que havia (mais) elegância.

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