Portugueses incultos
De tanto em tanto tempo, a União Europeia faz um inquérito sobre os hábitos culturais dos cidadãos europeus, e o mais recente Eurobarómetro conclui que os Portugueses estão, com os Romenos e os Búlgaros, entre os que têm menos práticas culturais. Não frequentam bibliotecas públicas, não vão ao teatro nem a museus e, mesmo que de vez em quando não resistam a um concerto da sua banda favorita, muitos nunca assistiram a um espectáculo de dança ou ópera na vida. O cinema, que ainda era a área em que os Portugueses escapavam nos inquéritos anteriores, deixou também de ser frequentado pela maioria dos cidadãos nacionais (em dez meses, houve menos 1,2 milhões de espectadores nas salas), que agora preferem ver filmes na televisão. A televisão, aliás, parece ser o que ocupa 70 e tal por cento da população, enquanto apenas 40 por cento confessam ter lido um livro no último ano. As conclusões do relatório apontam para o facto de a crise obrigar a um decréscimo do consumo de produtos culturais – e é óbvio que, entre alimentar os filhos e ir ao teatro ou ver uma exposição, o português (ou outro qualquer) opta pela subsistência da família; mesmo assim, sabe-se que a culpa está em grande parte numa educação muito deficitária em termos de formação artística e na subsequente apatia nacional pelos valores culturais. Claro que o inquérito não distingue cidade e campo, litoral e interior – e os resultados podiam ser bastante diferentes se o fizesse. É pelo menos uma boa notícia que sejam os mais velhos quem menos lê e mais TV consome, pois assim sempre podemos ter alguma esperança no amanhã. De todo o modo, quando olhamos para os números dos países nórdicos (na Suécia, 90 por cento das pessoas leram pelo menos um livro em 2012), ficamos tristes. Nunca conseguiremos lá chegar.