Privacidade
Aqui há quinze dias, Edward Snowden dizia numa entrevista que as crianças que nascerem este ano já não terão qualquer possibilidade de saber o que é a privacidade. Escrevi neste blogue há cerca de um mês um post sobre escritores que se sentiam espiados nos EUA, mas, com as actuais práticas da Agência Nacional de Segurança norte-americana, há muitos outros que se queixam de que os cidadãos, escritores e não só, estão todos a ser tratados como potenciais suspeitos e que isso é inaceitável. É por essa razão que mais de 500 autores de todo o mundo, entre os quais alguns laureados com o Prémio Nobel da Literatura (Pamuk, Günter Grass e Coetzee, por exemplo), pedem uma reforma urgente das práticas de vigilância governamental e exigem às Nações Unidas uma declaração universal sobre privacidade na Internet. A carta tem por base revelações feitas a partir de documentos obtidos por Snowden, que põem em causa, segundo os escritores, a presunção de inocência, quando a democracia, dizem, deveria ter justamente como pilar a integridade inviolável do indivíduo. «Uma pessoa sob vigilância deixa de ser livre; uma sociedade sob vigilância deixa de ser uma democracia», lê-se no documento assinado por autores de 81 países, incluindo o escritor e jornalista português Pedro Rosa Mendes, que já foi vítima de censura encapotada e afastado por declarações proferidas num programa da rádio estatal. O britânico Ian McEwan diz que o Estado escolhe sempre a segurança em detrimento da liberdade e que as novas tecnologias trouxeram formas de vigilância que espantariam o próprio George Orwell, o sublime criador de 1984. E, com outros escritores, declara que, nas suas páginas, ambientes e comunicações pessoais, todos os seres humanos têm o direito de não ser observados nem incomodados, direito que tem vindo a ser esvaziado em nome da vigilância em larga escala. Vamos ver se as Nações Unidas lhes dão ouvidos.