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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

09
Jan14

Escrever à mão

Maria do Rosário Pedreira

Quando era miúda e tinha de estudar, precisava absolutamente de ter um bloco à mão para fazer apontamentos do que ia lendo a fim de decorar e sistematizar a informação; julgo, aliás, que as famosas cábulas já ensinavam muito a quem as fazia, porque copiar para um papel ajuda claramente a reter e a organizar os conhecimentos. Alguns antropólogos defendem que a escrita à mão ajuda a desenvolver o pensamento lógico, a capacidade de abstracção e a objectividade. Mas eis que uma amiga, Maria Manuel Viana, partilha no Facebook uma péssima notícia divulgada no Le Magazine Littéraire, na qual a maioria dos Estados norte-americanos (penso que 45) se prepara para tornar a escrita à mão facultativa nas escolas. A decisão baseia-se aparentemente na circunstância de as pessoas usarem hoje apenas os teclados dos telemóveis e dos computadores para mandarem recados e escreverem textos curtos. Tendo sido realizado um inquérito, a conclusão foi a de que a maioria das pessoas interrogadas estava havia mais de seis meses sem escrever um único texto pelo próprio punho... Ora, os franceses, que até costumam ser bastante tradicionais em termos de educação, não foram tão longe como os norte-americanos, mas também resolveram simplificar a aprendizagem da escrita na escola, anulando maiúscula/minúscula e adoptando apenas um cursivo muito simples semelhante aos caracteres presentes nos teclados actuais, crendo que deste modo as crianças aprenderão mais rapidamente a escrever. Ai, pobre João de Deus, se fosse vivo havia de ter um enfarte... Como dizia a minha amiga no Facebook, será que se esqueceram de que a escrita é o suporte da nossa herança cultural?

7 comentários

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    Artur Águas 09.01.2014

    "wright" não existe.
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    Joaquim Jordão 09.01.2014

    Desculpe, Artur: existe, embora seja um termo obsoleto. Subsiste como apelido.
    wright (plural wrights) = 1. (obsolete) A builder or creator of something.
    Faz, pois, todo o sentido o último apelido do grande Mestre da Arquitectura do séc. XX – Frank Lloyd Wright.
    Ele “alargou céu infinito”, não sei se está a ver...
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    Artur Águas 09.01.2014

    Obrigado pelo esclarecimento: permitiu alargar o meu leque de palavras ingleses caídas em desuso !
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    Joaquim Jordão 09.01.2014

    Ora essa! Não tem que me agradecer. Agradeça antes a Cláudia, que foi ela que nos deu esta oportunidade.
    Aliás, repare bem neste conceito – “alargar o infinito” – com que ela nos desafia.
    Isto, no meu caso, vem mesmo a calhar, que ando justamente a reler “Palomar”, de Ítalo Calvino.
    É que, nos 27 textos, o Senhor Palomar observa as coisas, objectivas e subjectivas, analisa-as, medita sobre elas e chega a conclusões. Porém, essas conclusões são, por sua vez, objecto da sua minuciosa observação, análise, meditação...
    «(...) E assim, de adiamento em adiamento, chega-se ao momento em que será o tempo a gastar-se e a extinguir-se num céu vazio (...) Se o tempo tem de se acabar, podemos descrevê-lo instante a instante, e cada instante, ao ser descrito, dilata-se tanto que deixa de se lhe ver o fim.»
    Está a ver onde Cláudia nos leva?
    (Peço desculpa de não escrever isto à mão, this moment my right hand is not alone).
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    ASeverino 09.01.2014

    A propósito de Calvino-viram ontem no programa da RTP1 "quem quer ser milionário" aquele finalista de jornalismo que entre mil e uma bacoradas permitiu-se dizer que nunca tinha ouvido falar de Ítalo Calvino e desconhecia absolutamente quem escreveu "O nome da rosa", incrível, absolutamente incrível, finalista de jornalismo...estamos entregues aos bichos...aquele macaco ia já pró panteão...
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    Joaquim Jordão 09.01.2014

    Está a ver, ó Severino, onde Cláudia nos leva?
    O Senhor Palomar bem adverte: «Se o tempo tem de se acabar (…) cada instante, ao ser descrito, dilata-se tanto que deixa de se lhe ver o fim.»
    Este tempo que vivemos, que você nos descreve, tem de acabar – mas com gajos assim, jornalistas que querem ser milionários da treta e outros que tais, que nem sabem escrever à mão, deixa de se ver o fim desta m… (perdão: eu queria escrever mesmo merda).
    Ora bem: se este tempo tem de se acabar, arranjemos espaço para um novo tempo, “alarguemos o infinito” – como nos sugere Cláudia.
    Um abraço.
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