Vinte e seis polegadas
Publicou-o a Antígona e intitula-se O Anão. O seu autor – Pär Lagerkvist – é sueco, ganhou o Nobel da Literatura em 1951 e morreu no ano dos nossos saudosos Cravos. Nunca tinha lido nada deste senhor (lacunas é o que mais tenho em matéria de leituras) e gostei deste pequeno romance na primeira pessoa, escrito à laia de diário ou crónica por Piccolino, um anão da Corte – aliás, o único anão de um príncipe italiano da Renascença (pois, não suportando a concorrência, Piccolino matou, sem dó nem piedade, o seu congénere Josaphat, depois de levar o príncipe a vender todos os outros). Cínico e cruel, pródigo em relatar intrigas palacianas – as histórias da princesa e das suas infidelidades, dos cavalheiros bajuladores e dos seus oportunismos, das guerras e dos seus difíceis desfechos –, Piccolino não deixa ninguém imune à sua crítica e muito menos intacto, nem sequer esse príncipe que admira mais do que todos (apesar de o achar um hipócrita), ou o mestre Bernardo, o sábio filósofo e cientista que tem inegáveis ressonâncias de Leonardo (esse mesmo, Da Vinci). A prosa de Lagerkvist é despojada, não se parece muito com a dos outros autores nórdicos que tenho lido e, ainda que algo seca, resulta extremamente eficaz e equilibrada e fez-me lembrar, curiosamente, o tom de um monólogo que amanhã trarei para este blogue por crer que vale muito a pena ser conhecido. Como O Anão, evidentemente, que deve ser lido por todos, impressionáveis ou não, sem quaisquer reservas e, estou certa, com grande proveito.