Tenho esse enorme defeito de não ser curiosa, pelo que – com excepções, bem entendido – não me fascinam, como a tantos, as biografias. Mas gosto de saber coisas de escritores (e aconselho, desde já, as entrevistas da Paris Review recentemente publicadas pela Tinta-da-China; não é, porém, de aspectos tão sérios que falarei hoje). Há uns anos, li um livro de Javier Marías (nesse tempo muito menos famoso do que hoje, mas – recordo – já bastante arrogante) que reunia uma série de textos sobre escritores notáveis publicados, se não erro, num jornal espanhol. Chamava-se Vidas Escritas e trazia a chancela da Quetzal, quando esta era ainda dirigida por Maria da Piedade Ferreira. Despretensioso e ligeiro (não era um livro a que Marías desse uma importância por aí além), falava-nos de algumas idiossincrasias de escritores, contadas com humor, bom gosto e talento literário. Foi nesse livrinho que descobri, por exemplo, que Faulkner apostava fortunas em corridas de cavalos e Conrad deixava cigarros acesos por toda a casa, tendo-se livrado por pouco de alguns incêndios. Leitura boa para domingos sem ambições, que nos mostra que alguns monstros sagrados têm um lado tão humano como qualquer mortal.
Nenhuma, Francisco. Mas, no momento em que escrevia o texto, só me ocorreu «bisbilhotice» e, como não era bem o que queria dizer, optei pela palavra inglesa. Vou ter mais cuidado da próxima vez. Um abraço.
Peço desculpa pela intromissão, mas "bisbilhotice" ficaria bem melhor. Penso que é mais saudável confessar o nosso desejo de bisbilhotar a vida de uma celebridade, absoluta ou relativa, do que fazer de conta que não queremos mesmo saber pormenores dessas vidas. E o "mexerico" não andará mais perto do "rumor" e do "boato" do que da bisbilhotice, seja ela popular ou erudita?!
Talvez, embora me pareça demasiado "criativa" a sua elaboração semântica. Para mim, "mexerico" e "bisbilhotice" sempre foram sinónimos. Ainda assim, fui ver: o Dicionário de Sinónimos da Porto Editora e o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, os únicos dois que tenho à mão neste momento, corroboram-me. Outros, porventura, terão entendimento diferente. Ainda bem, ou talvez não. Português não é matemática, mas também não é plasticina.
Só, confessando-me, para precisar melhor o meu comentário: eu perdoo-me a bisbilhotice mas não gosto do mexerico; uma parece-me coisa sólida e relativamente inocente, o outro uma fantasia às vezes pouco inocente. Em termos práticos: posso ser muito curioso sobre as peculiaridades de um dado escritor e deliciar-me-ei com a possibilidade de bisbilhotar; se o respeitar, não entrarei em qualquer mexerico a propósito. Mas poderei dar-lhe razão: pode ser uma questão de criatividade :-)