Em branco
O Prémio Literário José Saramago – não há como negar – tem uma grande influência no sucesso e na divulgação dos escritores que o recebem. Como publiquei José Luís Peixoto, valter hugo mãe e João Tordo, consigo avaliar a diferença – pelas vendas e pela atenção do público e dos meios de comunicação – entre o antes e o depois da atribuição do prémio. Contudo, da única vez que o galardão foi dado a um escritor estrangeiro (no caso, a escritora brasileira Adriana Lisboa), não teve exactamente as mesmas repercussões. O romance premiado, Sinfonia em Branco, era maduro e belíssimo – a história de duas irmãs e da relação de ambas entre si e com um pai abusador –, mas não vendeu mais do que qualquer romance não premiado. Publiquei, ainda na Temas e Debates, a obra seguinte de Adriana Lisboa, cujo título remetia para um verso de Manuel Bandeira – Um Beijo de Colombina – e esse, então, quase passou em branco, o que foi apenas mais uma injustiça. E a Quetzal editou não há muito o seu terceiro título – Rakushisha –, que não li, mas espero que dê à autora o reconhecimento que merece. Se nunca pôs os olhos num livro de Adriana Lisboa, não continue em branco.