Livros dentro de livros
Para quem gosta realmente de ler, um livro que tenha um ou mais livros dentro acaba por tornar-se ainda mais atraente; e foi certamente esta atracção que fez de alguns títulos verdadeiros campeões de vendas. Falo, por exemplo, de A Sombra do Vento, que já vendeu milhões de exemplares em dezenas de línguas e países e que, sendo de um autor até então perfeitamente desconhecido (publicara apenas dois ou três títulos juvenis), alcançou um sucesso de que Carlos Ruiz Zafón e os seus editores de certeza não suspeitavam. O livro lê-se muito bem e, apesar de falhas na estrutura (perdoáveis numa quase estreia), tem personagens muito bem concebidas, que convocam a nossa empatia imediatamente. Contudo, se não fosse essa invenção fantástica do cemitério dos livros esquecidos referida logo no início e o mistério à volta de um certo livro, os leitores não deslizariam ao longo das páginas com o mesmo prazer. Pois acaba de sair um romance de José Luís Peixoto intitulado justamente Livro e, assim que soube do título, fiquei entre o maravilhada e o receosa (lá que é estranho, é) – mas, sem sombra de dúvida, curiosíssima sobre que livro seria esse. Li depois que «Livro» era o nome de uma personagem e, sem querer, houve uma desilusão qualquer. Mas comprei na mesma e espero, apesar de tudo, que seja um Sr. Livro.