As mulheres dos escritores
As mulheres dos escritores não têm uma fama por aí além – e, se passam a viúvas, a coisa tende a piorar. Ouço esta tirada muitas vezes e sei quase sempre em quem estão a pensar os que a dizem. Claro que há histórias reais de viúvas que se apropriaram das palavras escritas pelos maridos em guardanapos de papel e tentaram ganhar dinheiro com elas; de outras que nunca mais largaram as editoras com exigências; de uma ou duas que bateram o pé e não deixaram tirar o acento grave nos advérbios acabados em «mente» porque era assim que os falecidos tinham escrito no tempo deles; e ainda das que inventavam que eram as musas dos escritores quando o mundo inteiro sabia que o casal dormia há anos em quartos separados. Sim, acredito nestas excepções, mas quantas mulheres e viúvas haverá das quais nunca saberemos a existência – discretas, recatadas, silenciosas? E quantas serão pessoas normalíssimas, que não correspondem minimamente ao figurino de «mulher de escritor» do nosso imaginário? O Manel conta que conheceu a mulher de um escritor que levava o tricô para as conferências do marido e fazia malha enquanto o ouvia; e outra que se levantava a meio da noite, acordada pelo telefone, e se metia no carro para ir buscar o marido que, de tanto beber, não conseguia voltar para casa sozinho... Conheci uma senhora – lindíssima, por sinal – que era escritora e mulher de escritor. Pois o pior que os jornalistas podiam fazer-lhe era falar-lhe do marido...