Livro, que livro?
Andava atarefada, sempre à procura de bocadinhos livres para me agarrar às capas de um determinado livro, quando o Manel me perguntou que andava eu a ler com tamanha sofreguidão. Respondi-lhe que andava a ler o Livro, mas ele não percebeu imediatamente. E, quando deixei o exemplar num sítio qualquer da casa e não o encontrava, perguntei-lhe se ele por acaso tinha visto o meu livro e ele perguntou outra vez de que livro se tratava. Respondi: o Livro. Ficou confuso, mas, finalmente, lá se fez luz. Este título de José Luís Peixoto presta-se a confusões e tem, realmente, muito que se lhe diga. O Livro também – e com ele passei muitas horas extraordinárias nos últimos tempos. Quando estava a chegar ao fim, até veio aquela tristeza que temos quando nos separamos de alguém que amamos. A primeira parte é absolutamente magnífica, com muitas passagens e personagens que me recordaram Nenhum Olhar, mas com uma leveza nova e até alguns apontamentos de humor (um surdo que «se descuida» diante de toda a gente porque não ouve os próprios puns, por exemplo). A segunda parte – de que a crítica gostou menos – é uma forma de o autor ser moderno, para não ser apenas clássico. Não tenho nada contra nem acho de forma alguma que esteja a mais, até porque tem dados importantes sobre o desfecho da história do Ilídio, da Adelaide e de outras pessoas. Como eu supunha, é mesmo um senhor livro.