Terra Santa
Quando hoje se fala na nova literatura portuguesa, os nomes que vêm à baila são quase sempre os mesmos: José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, João Tordo. Tive a felicidade de poder dar à estampa os romances de estreia de três deles, mas, naturalmente, não deixo de considerar um escritor enorme o único que nunca publiquei: Gonçalo M. Tavares. O seu Jerusalém, que venceu vários prémios cá dentro e lá fora, é um romance absolutamente notável e único no panorama das letras portuguesas, tão próximo da tradição da Europa Central como Tordo está da anglo-saxónica. Enquanto o lia, tinha sempre um aperto no coração, como se soubesse que o mal estava à espreita e havia de se mostrar cedo ou tarde – um mal que era inevitável porque inscrito numa espécie de linhagem histórica que o determinava. As personagens – médicos, loucos, deficientes, traumatizados da guerra, prostitutas – ficam connosco muito para além de o livro fechado, mesmo que algumas delas tenham morrido nas suas páginas. E as ideias por detrás da história pareceram-me, por vezes, tão geniais e novas que, enfim, tive ainda mais pena de não ter sido eu a publicar este livro, mas muito feliz por ele existir.