Listas de personagens
O Guardian publicou há tempos, em dois números separados, um conjunto de regras elaboradas por escritores sobre o que deve ou não fazer quem queira ser um deles (agradeço ao Francisco Agarez ter-me enviado o link). Lembro-me de que uma dessas regras inibe a criação de listas de personagens. Percebo a ideia (para quê, realmente, criar mais personagens do que aquelas que um leitor é capaz de reter?), mas li um romance há muito, aconselhada por um amigo, que incluía uma longa lista de figuras e não deixava de ser admirável. Falo de Casa de Campo, de José Donoso, que tenho numa edição da Difel, mas foi reeditado recentemente pela Cavalo de Ferro. Quase todas as personagens nesse livro são primos ou irmãos (os adultos desaparecem quase no princípio, caindo numa armadilha que os próprios filhos e sobrinhos lhes lançam) – crianças e jovens que criam na tal casa de campo algo muito parecido com um território em conflito. A minha personagem favorita (e nem preciso de ir consultar a lista) é Arabela, a intelectual da família, que vive sempre com o nariz metido nos livros e raramente sai da biblioteca. É óbvio que é a ela que todos recorrem quando precisam de uma mãozinha. Não sabem, claro, que essa biblioteca não é bem o que pensavam. Para saber como é, leia o livro – a surpresa vale bem o «esforço» e o dinheiro que der por ele.