O enciclopedista e o pretenso poeta
Quando tinha dezasseis anos, saiu-me num exame de Francês um texto delicioso. Contava a história de um jovem poeta que tinha ido encontrar-se com o grande Diderot para lhe mostrar o que andava a escrever e auscultar a sua opinião. O enciclopedista não se negou a dar-lha, mas pediu que deixasse os poemas e lhe desse tempo para os ler com atenção. Quando, ao fim de alguns dias, o jovem regressou, seguramente expectante, Diderot explicou-lhe que não só aqueles poemas eram maus como mostravam que o seu autor nunca seria capaz de escrever bons poemas... Como não sou Diderot – e embora às vezes me apetecesse –, não posso dizer nada de semelhante a alguns jovens (e não tão jovens) pretensos escritores que me mandam os seus livros (embora um dia destes Lobo Antunes me tenha dito que só se pode fazer um bom editing com crueldade). Tento, mesmo assim, ser frontal sem magoar demasiado na minha tentativa de dissuasão. Mas nem sei se chego aonde quero, porque, para ser franca, sei de muitos livros que recusei e foram, ainda assim, publicados por outras editoras. Alguns – pasme-se – até me incluíam nos agradecimentos... A propósito, O Poeta de Pondichéry, livro de poemas de Adília Lopes, refere-se a este jovem poeta que Diderot mandou passear.