Português de Portugal
Quando estava na Temas e Debates, a editora tinha um acordo com uma congénere brasileira – a Rocco – para vender em Portugal (depois de revistos ou retraduzidos) livros cujos direitos mundiais para a língua portuguesa pertenciam a essa editora – entre outros, os thrillers de John Grisham como O Cliente ou A Firma. Numa viagem ao Rio de Janeiro para a Bienal do Livro, pediram-me que me encontrasse com uma assistente do senhor Rocco, no sentido de tratar de alguns assuntos pendentes e ver os livros que queríamos publicar em Portugal no ano seguinte. A senhora chamava-se Ana Maria Bergin e, embora fosse bastante mais nova do que eu, não tinha com ela qualquer familiaridade. Como acho o tratamento por “você” bastante feio e até um pouco indelicado, dirigi-me a ela na terceira pessoa, usando, como é costume em Portugal, o seu nome próprio. Estive, assim, cerca de uma hora dizendo coisas do tipo “Como a Ana Maria bem sabe...”, “A Ana Maria não conhece o mercado português, mas...”, “Eu sei o que a Ana Maria pensa sobre esse assunto”, “A Ana Maria podia sugerir-me...” e por aí fora, até que, de repente, ela me interrompeu bruscamente e perguntou: “Desculpa, mas quem é Ana Maria?” Fiquei, como podem imaginar, aparvalhada de todo. E, no abismo que se criou entre ambas, continuo a achar que não há acordo ortográfico que nos valha...