Um problema de esquerda
O meu «compadre» (como se dizia antigamente) é canhoto (creio que o termo correcto é esquerdino, mas acho que ele não se ofende por eu usar uma palavra, ao que julgo, pejorativa); parece que ainda lhe tentaram ensinar a escrever e comer com a mão direita, mas não deu resultado, e isso não o impediu de adorar fazer riscos e desenhos e ser há muito director gráfico em agências de publicidade. Ainda assim, sempre o ouvi queixar-se das tesouras e das facas de peixe que, pensadas para quem faz tudo com a mão direita, incomodam bastante quem usa a esquerda e, sobretudo, de pouco ou nada servem, porque ficam com as lâminas viradas para o lado em que não há nada para cortar. Sempre me impressionou bastante na infância a forma como os colegas canhotos colocavam a folha de papel sobre a mesa e escreviam – todos torcidos – e, um dia destes, ao ver na televisão um árabe a escrever da direita para a esquerda, pensei que, se calhar, nesses países onde a direcção da escrita é diferente da nossa há mais esquerdinos e os destros são a excepção. Na verdade, também no Japão os livros começam pelo (nosso) fim e a capa está onde nós, por norma, colocamos uma sinopse, críticas e outro material promocional. Será que lá também os canhotos são privilegiados?