Recitar
António Lobo Antunes é, segundo me dizem, um amante de poesia – um apreciador e um conhecedor. E há uma ou duas semanas, tendo ido autografar exemplares do seu último romance à editora, parece que deu um espectáculo fantástico a quem lá estava para ouvir, recitando de cor imensos poemas portugueses de várias épocas. Há uns dias, quando me encontrei com o escritor Mário Cláudio para agendar a saída do seu próximo romance, ficámos a conversar sobre Yeats e Robert Frost no fim da reunião e, de repente, também ele me recitou ali mesmo, em inglês, do pé para a mão, um poema lindo de Frost sem a mais pequena hesitação. (Podia ter-lhe retribuído com outro, mas fiquei intimidada e não fui capaz.) Era, porém, bonito juntar estes «craques» num lugar qualquer e deixá-los recitar para nós. Tenho a certeza de que fariam mais pelos poemas e os poetas do que algumas (quase todas) livrarias que temos, onde a poesia está sempre escondida ou nem tem existência. Bom serviço à poesia prestam também João Gesta e os seus diseurs nas Quintas de Leitura do Teatro do Campo Alegre, no Porto, uma vez por mês, fazendo um trabalho magnífico. Se nunca assistiu e vive na cidade Invicta, não falte da próxima vez.