Plágio ou não, eis a questão
Na véspera do lançamento público do romance Rio Homem, de André Gago (AG), foi o autor informado por uma jornalista que o entrevistara na véspera de que Francisco Duarte Mangas (FDM), jornalista e escritor, enviara para a redacção uma nota acusando André Gago de ter, grosso modo, plagiado uma novela que escrevera em 1993 intitulada O Diário de Link, tantas eram as coincidências e semelhanças que encontrara. Conheço, embora superficialmente, Francisco Duarte Mangas, por quem tenho respeito enquanto autor (acho pena, aliás, que nunca tenha tido o reconhecimento que merece) e estima enquanto pessoa. Também por isso a acusação me pareceu estranha: o romance de AG já passara, no Prémio Leya, o crivo de um júri com nomes de respeito (entre eles, Manuel Alegre, Nuno Júdice ou Pepetela), fora objecto de uma crítica por Miguel Real no JL (que o inseriu numa tradição literária portuguesa, enumerando muitos outros autores, mas nunca FDM) e ia ser (já foi) apresentado por Lídia Jorge em sessão pública. Além disso, as razões invocadas para o «plágio» no comunicado eram demasiado gerais, entre elas o facto de a acção decorrer na mesma aldeia em ambos os romances e haver «uma história de amor arrebatadora»… Porém, porque não gosto de me pronunciar sem ter os dados todos, dei a FDM o benefício da dúvida. Subi então à escada em demanda do seu O Diário de Link nas estantes lá de casa, pois o Manel garantiu-me que possuía um exemplar (e porque só tem 85 páginas, na confusão, foi mesmo difícil de encontrar). Li-o e gostei; mas, com toda a franqueza, não encontrei mais semelhanças entre ele e Rio Homem do que as que existiriam entre dois romances passados em Paris com resistentes ou em Coimbra com estudantes... Pontos de contacto, sim, mas os evidentes em autores que se preocupam e escrevem sobre os mesmos assuntos. FDM apresentou, tanto quanto percebi, uma queixa à SPA; AG diz que fez muito bem.