Uma casa na Palestina
A criação de um Estado palestino merece toda a nossa atenção, sobretudo depois da criação do Estado de Israel. Mas exige também de nós um conhecimento que nem sempre temos quando nos erguemos para defender um lado ou outro. É por isso a todos os títulos recomendável a leitura do romance de Alon Hilu, A Casa Dajani, um livro belíssimo e esclarecedor sobre o velho conflito. A sua acção começa em 1895 com a viagem de um agrónomo judeu – Haim Kalvarisky – para Jafa, na companhia de Ester, a sua mulher linda e frígida. Espera Kalvarisky que o clima da terra dos antepassados devolva a Ester o desejo sexual e, ao mesmo tempo, lhe dê a ele terras férteis donde possa extrair riqueza. Mas nada será linear, e o seu encontro com um rapazinho árabe muito perturbado – Salah Dajani, que tem visões de uma tragédia que se abaterá sobre o seu povo – e a mãe deste – mulher de olhos verdes cujo marido está sempre fora – será decisivo na perseguição dos objectivos do homem loiro e carente. Polémico quanto baste, contado ora pelo judeu, ora pelo menino árabe (e nunca saberemos quem mente e quem diz a verdade), A Casa Dajani traz-nos a história fascinante dos primeiros sionistas e acompanha o destino trágico de Salah e Haim a partir do momento em que o agrónomo seduz a mãe da criança e o pai desta aparece morto misteriosamente. Um desafio permanente para o leitor, o romance recebeu grandes elogios de Shimon Peres e ganhou o mais importante prémio israelita – que logo lhe foi retirado por razões que todos perceberemos ao lê-lo. A capa, com um portão abrindo-se para um pomar de laranjeiras, convida-nos a entrar nele sem preconceitos.