Marcas de sucesso
Num mundo cada vez mais concorrencial, as empresas esgadanham-se por achar um produto que se afirme no mercado e lhes dê lucro certo e sem espinhas. Quando falamos de livros, isso é tanto mais difícil quanto cada livro é um livro e nada garante que um autor ou género aparentemente bem-sucedido num determinado período consiga manter o êxito cinco anos depois. No tempo em que comecei na edição, quando um escritor era lançado e se vendia bem, quase sempre os leitores procuravam o seu livro seguinte; hoje, porém, as coisas já não são bem assim – até porque muita gente desconhece o autor do livro que anda a ler e, se este não se der ao trabalho de mostrar a sua carinha (que, sendo bonita, tem vantagem) pelos sete cantos do País, não poderá almejar a uma reputação que mereceria apenas pelo que escreveu. Mesmo assim, há temas que conseguem instituir-se como marcas de sucesso e raramente dão mau resultado. De há alguns anos a esta parte, os editores descobriram que Salazar é um deles – e, desde então, todos os livros que tragam no título o nome e na capa o retrato do homem que se manteve mais tempo à frente dos destinos da Nação são um negócio praticamente seguro. O problema é que, a par de uma fantástica biografia como a de Filipe Ribeiro de Menezes – que apresenta, efectivamente, muitos elementos novos para reflexão e conhecimento –, outras obras há que exploram o filão de modo mais à scandale, prontificando-se, por exemplo, a ilustrar-nos sobre a vida sexual e amorosa do nativo de Santa Comba Dão. Atentando no número de livros recentemente dados à estampa, parece que Sá Carneiro, trinta anos decorridos sobre a sua morte, corre o risco de se tornar outra marca de sucesso.