Distribuir jogo
Falaram-me há uns dias de um estudo que prova que a maioria das pessoas que compram e lêem livros não tem a mais pálida ideia da editora que os deu à estampa. Imagino que os leitores deste blogue sejam excepção, mas é bem possível que muitos dos meus amigos leitores – de outras profissões e, portanto, alheios às lides editoriais – não saibam efectivamente quem publica os livros que andam a ler (mesmo quando sou eu a editora). Poder-se-ia, pois, pensar que a chancela é coisa secundária e que tanto faz que um romance seja publicado aqui ou acolá. Mas não é bem assim. Estou na LeYa, como sabem, para publicar novos autores portugueses e, como já me disseram, «distribuir jogo», consoante os originais sejam mais populares, comerciais ou literários. E estou a aprender que para os autores, em primeiro lugar, a chancela não é mesmo nada indiferente e marca, por assim dizer, a dose de literatura de cada livro – e, queiramos ou não, a sua qualidade. Mas também já percebi que a crítica dedica uma atenção completamente diferente a um livro que traga determinado selo editorial e quase o ignora se o selo é da editora x ou y, que associa imediatamente a livros de não intelectuais. Por outro lado, uma equipa comercial formada para vender autores literários não vende necessariamente bem um thriller ou um romance mais leve, até porque está habituada a trabalhar pontos de venda distintos daquela que comercializa livros do género com uma perna às costas. Distribuir jogo implica, assim, muita ponderação e ginástica em busca do casamento perfeito entre livro e chancela. Mesmo que depois, como disse, a maioria dos leitores não ligue nenhuma a isso.