O operário em desconstrução
Com a deslocalização das fábricas para países onde a mão-de-obra é mais barata e uma certa mudança de paradigma no Ocidente, os operários, tal como os conhecíamos, estão em extinção – e quem enche agora as nossas (e as outras) manifestações são, grosso modo, os funcionários públicos (o que até é paradoxal, uma vez que são os que têm o emprego «mais» garantido). Às vezes interrogo-me se os jovens de hoje (em suma, os menos cultos) terão uma pálida ideia do que foi o operariado. Talvez Dickens lhes possa dar uma ajuda, ele que trabalhou em fábricas na infância e retratou nos seus livros uma classe trabalhadora que quase se sumiu. Dickens é um grande autor injustamente esquecido e, segundo creio, um excelente nome para aproximar os jovens da leitura. Fiquei, pois, contente quando Ricardo Araújo Pereira incluiu na colecção de livros de humor que dirige na Tinta-da-China Os Cadernos de Pickwick. Mas pode ser outro qualquer, o que importa é que não esqueçamos este precursor do mainstream.