O génio simples
Nesta época em que vivemos, parece que já está tudo inventado – e, em matéria de literatura, é de facto muito difícil fazer bom e diferente. O segredo está muitas vezes em «baralhar e dar de novo», uma vez que se trabalha com um material abstracto chamado linguagem que, graças a Deus, não é estanque e aceita constantes combinações. Mas, se muitos críticos dão primazia à linguagem em detrimento da história para definir o génio literário, a verdade é que houve muitos génios da literatura que vingaram com um pelo menos aparente despojamento linguístico. Os escritores norte-americanos, por exemplo, não são lá muito dados a rendas e franzidos, optando, frequentemente, por uma simplicidade quase comovente na escolha das palavras e na composição das frases e apostando quase tudo na estrutura e na temática. É, pois, a todos os títulos, admirável essa novela que todos os jovens deviam ler – e muitos lêem – chamada O Velho e o Mar, que vive com apenas duas personagens (e uma delas não fala) no mesmo cenário, do princípio ao fim da narrativa. Se, por mero acaso, nunca leu a pequena obra-prima do génio Ernest Hemingway, guarde umas duas ou três horas da sua vida para depois nunca mais se esquecer dela.