Profissionalismo
Debato-me muitas vezes interiormente com a questão de saber se exerço a minha função com o desejável e exigível profissionalismo. Será um bom editor aquele que procura e identifica o talento do escritor e o revela depois ao público, dentro de um cânone mais ou menos estabelecido pela Academia, ou aquele que responde melhor aos desafios que lhe são apresentados pelo patrão ou a entidade que o emprega e que, como referi no meu post anterior, se prendem mais com o negócio do que com coisas como inovação, qualidade ou intemporalidade? Embora já me tenham descrito como «caça-cabeças da literatura portuguesa» e outros epítetos ainda mais engraçados («preparadora física da selecção nacional», por exemplo), não raro antevejo para mim um futuro negro, no qual não há leitores suficientes para o que hoje reputo de um bom livro (o que resultaria quiçá no meu despedimento). Tento, por isso, conciliar a edição desses textos evidentemente literários e susceptíveis de agradar aos intelectuais com a de outros que, num país como o Reino Unido, apareceriam na categoria Commercial Fiction, capazes de chegar a leitores menos experientes e menos exigentes (mas sempre com o cuidado de eleger apenas aqueles cuja estrutura, desenho de personagens e linguagem seja irrepreensível, porque o fácil ou acessível não tem de ser sinónimo de mau, mesmo que alguns o advoguem e não queiram dar o braço a torcer). Com estes últimos, tenho a esperança de fazer leitores que um dia se atirem aos primeiros (os que realmente gosto de ler e publicar). Mas seria uma melhor profissional se os não fizesse? E sê-lo-ia ainda melhor se excluísse os que terão cada vez menos leitores, a avaliar o estado de (des)educação em que nos encontramos?