Aconselhamento
Quando acabei o curso na Faculdade de Letras (e é melhor nem pensar há quanto tempo foi), senti um enorme vazio. Não que tivesse aprendido lá mais do que aprendi com os livros, a vida e as muitas pessoas com quem me fui cruzando, mas, talvez até pela época em que fui universitária, foi na Faculdade que senti que me abriam os olhos e me mandavam ver de tudo. Ficava, por isso, uma sensação estranha de que doravante não tinha quem me aconselhasse livros, filmes, peças de teatro ou exposições e de que, sozinha, não iria conseguir separar o trigo do joio. Quando, ao falar com ex-colegas, percebi que não era a única que o temia, o vazio foi-se enchendo naturalmente. Julgo, mesmo assim, que é para rechear esses ocos existenciais que todos os anos os nossos jornais (e, afinal, os de todo o lado) se apressam a compor listas de livros, filmes, discos, etc., enumerando o que de melhor os seus leitores podem (ou puderam) consumir no ano que passou. E, correndo o risco de dizer que, decorridos alguns dias, já a ninguém importará o que leu, a verdade é que, cruzando informação, aparecem aqui e ali denominadores comuns que ficam na memória e se colam aos nossos desejos de ter, ler, ver e ouvir. Por mais que o tempo passe, a verdade é que todos gostamos de ser aconselhados.