De pequenino se torce o pepino
Nos dias que correm, os livros infantis multiplicam-se e vendem-se às pazadas. Acredito, porém, que muitas vezes os pais, diante da birra da criança no hipermercado, levem a primeira coisa a que deitam a mão, colorida o bastante e, de preferência, a preço leve. Uma pena, claro, porque há livros bons e livros muito bons, livros maus e livros muito maus. Tenho visto coisas de bradar aos céus que nem descortino porque são publicadas: histórias sem tom nem som, ilustrações de fugir, erros de ortografia graves, traduções tremendas, palavras tão fora de moda que nem os mais velhos já as usam. Pessoa dizia que um bom livro para crianças tem de ser lido por qualquer adulto com prazer. Claro que no tempo dele (e até no meu tempo de criança) os livros infantis não tinham nada que ver com os que hoje os supermercados despacham às dúzias; ainda assim, devo dizer que muitos dos livros que fizeram as delícias dos meus sobrinhos eram, para mim, uma grande xaropada (incluindo os que eu própria escrevi) e nem por isso deixaram de ser sucessos de vendas e de tornar alguns dos seus autores autênticos fenómenos de popularidade. Mas, tirando os livros da moda que os filmes e programas de animação fabricam – e que todas as crianças querem ter e, na maior parte das vezes, têm –, a verdade é que, com ou sem birra, seria proveitoso que os pais lessem os textos e olhassem para as ilustrações antes de chegar à caixa registadora, para saberem o que estão a dar aos filhos, porque, como dizia a minha avó, de pequenino se torce o pepino – e era bom que ele torcesse para o lado certo...