Desaparecido
Há alguns escritores que fazem furor em determinada época e, de repente, desaparecem para sempre como se nunca tivessem existido. No tempo em que trabalhava na Gradiva, lançámos o romance de estreia de Frank Ronan, um autor irlandês que veio na ocasião a Portugal (nessa altura, ainda não era comum convidar os autores para os lançamentos dos seus livros) e que, por ser realmente um tipo giro, simpático e inteligente (e ter escrito um livro delicioso que se chamava Os Homens Que Amaram Evelyn Cotton), colheu o entusiasmo unânime da crítica jornalística. Depois disso, publicou outros romances que também se venderam muito bem e estiveram nos top das livrarias (Piquenique no Paraíso e A Morte de Um Herói) e um livro de contos que foi editado em Portugal antes até de o ser no Reino Unido (Os Homens Bronzeados Ficam Bonitos), a que se seguiram os romances Lovely e A Comunidade, que ficavam a dever muito aos primeiros, mas que, pelo que sei, não correram mal em termos de vendas. A vida de Ronan deu, a dada altura, uma volta estranha (acho que teve que ver com drogas, mas não juro) e o escritor acabou por desaparecer completamente dos escaparates, sobretudo em Portugal, que parecia gostar especialmente dele. As novas regras do mercado dificilmente deixarão que o editor recupere os seus livros, o que é uma pena, mas, se alguém tiver coragem para os desencantar algures, não perca uma experiência de leitura deste irlandês desaparecido (A Morte de Um Herói, com Deus como narrador, é talvez o melhor título para se afeiçoar).