Nem tudo é o que parece
Já ouvimos dizer mais de mil vezes que as aparências iludem e que nem tudo é o que parece. O título deste post é, de resto, semelhante ao de um bem divertido livro de contos da uruguaia Carmen Posadas (Nada É o Que Parece), de quem já falei neste blogue e que, curiosamente, inaugurou o Fórum da FNAC do Chiado com o lançamento do seu segundo romance (o primeiro publicado em Portugal) Pequenas Infâmias – romance no qual também existem bastantes coisas que parecem o que não são. Mas, mesmo confiando na sabedoria popular, a verdade é que sempre achei que a maioria das palavras da nossa língua combinavam bem com a coisa ou ideia que representam – e, a este respeito, daria como exemplo o vocábulo «fofo», com qualquer coisa de onomatopeico, que não pode ser mais elucidativo daquilo que realmente significa. E, contudo, há duas palavras que sempre achei estarem nos antípodas do que significam e, talvez por isso mesmo, sejam cada vez menos utilizadas, quer pelos escritores, quer pelos meros falantes do português. Uma delas é a estranhíssima «pulcritude», que cheira logo a coisa apodrecida e malcheirosa, mas quer dizer, nem mais nem menos, «beleza». (Aqui para nós, prefiro que me chamem feia a que alguma vez se refiram à minha pulcritude.) A outra é a não menos surpreendente «alacridade», que associo logo a gente alarve, bruta e mal-educada e é, afinal, fundamental para a nossa vida, pois significa simplesmente «alegria» (se virmos bem, a raiz é, de resto, a mesma para os dois vocábulos). Assim sendo, o melhor é continuarmos a confiar nos ditos populares, porque é mais do que certo que, como noutras coisas da vida, também na língua portuguesa as aparências iludem – e muito.