Portuguesismo
Uma das maiores tristezas dos autores portugueses é o facto de não se conseguir que sejam traduzidos noutras línguas e publicados noutros países, podendo assim elevar-se mais facilmente à condição de universais. Para mim, que trabalho sobretudo com literatura portuguesa, o tempo para investir na internacionalização não é muito, mas as tentativas que faço quase nunca dão frutos. Em primeiro lugar, porque são raras as editoras estrangeiras com leitores de língua portuguesa capazes de apreciarem a obra no seu todo e de se envolverem na publicação de nomes desconhecidos no seu mercado; em segundo lugar, porque há países com uma produção literária tão significativa (o caso do Reino Unido, por exemplo) que quase não publicam traduções; em terceiro lugar, porque os custos de tradução são elevados e, sobretudo em anos de crise, só se aposta naquilo que se sabe vai funcionar. Porém, há muitas vezes um problema suplementar que induzo da circunstância de muitas editoras e agentes estrangeiros se interessarem sempre pelos africanos lusófonos que publico, mas quase nunca pelos portugueses – é que, frequentemente, as obras são demasiado portuguesas e de difícil absorção noutras línguas e realidades geográficas, e este portuguesismo tem obstado a que a nossa literatura seja exportada como outras o são. Creio que os novos autores estão a tornar-se mais cosmopolitas e universais, mas a verdade é que muitos dos nossos mais conhecidos escritores só podem ser inteiramente apreciados para cá da fronteira. Certamente é por causa disto que Agustina Bessa Luís, entre outros, só tem um romance traduzido, e numa ou duas línguas. Mas não é caso único.