Writers friendly
De todas as cidades que conheci até hoje, posso afiançar que Dublin é a mais writers friendly. É certo que a Irlanda – país de algum modo periférico como o é Portugal, mas com a sorte de falar inglês – tem já quatro prémios Nobel da Literatura (o genial Yeats, Beckett, Bernard Shaw e o poeta Seamus Heaney – a ordem é arbitrária), mas vive orgulhosa de todos os seus escritores vivos e mortos, como o atesta, aliás, um museu que lhes é dedicado na capital; e tem, além disso, as livrarias abertas até à meia-noite e deliciosos percursos joyceanos oferecidos aos turistas que tenham ou não lido o Ulisses (em Lisboa, ainda ninguém se lembrou de fazer um tour pessoano, acho eu, o que é uma pena). E é justamente em Dublin que um grande escritor espanhol faz situar a acção do seu mais recente romance, a sair em Fevereiro com a chancela da Teorema. Falo de Enrique Vila-Matas e do seu Dublinesca, pelo qual ando já com água na boca. É que a obra versa precisamente sobre os destinos de um editor literário que sabe retirar-se a tempo de não ser retirado pelas novas regras da indústria editorial, mas vive amargurado pela ideia de que não encontrou aquele autor genial que daria sentido à sua vida e crê, por qualquer razão, que é em Dublin que o encontrará. Já li meia dúzia de páginas e digo-vos que promete.