O difícil
Um dia destes, estava a pensar que, com a idade, nos tornamos mais preguiçosos, até para pensar. Quando andava na faculdade, passava a vida a ver filmes alemães estranhíssimos e espectáculos de teatro e dança excessivamente crus – e hoje dou por mim a pensar que já não tenho estofo para aguentar hermetismos ou violência, por mais estéticos que possam ser (quando devia ser ao contrário, pois só agora possuo maturidade para os apreciar e compreender). A minha mãe – que está com 86 anos, mas sempre leu muito – também diz amiúde, quando me pede livros emprestados, que não lhe leve nada de muito complicado... Ora, recentemente, a Casa Fernando Pessoa inaugurou uma sequência de intervenções sobre Livros Difíceis – e a primeira dedica-se a Proust e tem como orador Pedro Tamen, que é também o tradutor de Em busca do Tempo Perdido. A ideia parece-me belíssima e, como tal, «convido» todos os jovens que lêem este blogue a irem ouvir os experts e a deixarem-se encantar depois pelas tais obras difíceis – se ainda as não conhecerem, claro – que hão-de parecer certamente mais fáceis com essa ajudinha dos especialistas. É que, quando chegarem à minha idade, já não vão ter provavelmente coragem de se atirar a elas...